Artigo: As duas regras de fé

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* Por Dom Aloísio Roque Oppermann, Arcebispo Emérito de Uberaba

Antes de qualquer consideração, quero lembrar que a fé católica é uma religião revelada. A primeira atitude, portanto, é tomar consciência de que Deus tomou a iniciativa ao nos revelar quem Ele é. Nós mostramos sensatez acreditando na mensagem dessa manifestação  divina. E ainda mais. A nossa resposta acontece, não acreditando em coisas (Eucaristia, Paraíso, Vida Eterna…), mas crendo com confiança total numa pessoa. Essa pessoa é fidedigna, e por isso prazerosamente aceitamos tudo o que ela ensina e  pede para ser feito. Essa pessoa é Jesus Cristo, objeto de uma confiança acima de qualquer comparação. Mesmo que digamos que o Ser Divino se revela na criação, na história da salvação, nos milagres, sempre quem é o ator do ensinamento é a pessoa do Salvador. A fé não nasce primordialmente de raciocínio bem feito, de aprofundamento nas considerações  intelectuais.  Isso é o momento segundo. Porque antes disso vem o desejo do Pai amoroso em nos fazer entender a sua natureza e estabelecer relações amistosas conosco.

Alguém pode fazer a pergunta: em que um seguidor de Cristo pode se basear para crer? Qual é o critério sobre o qual construímos o edifício da fé?  A primeira resposta é a Sagrada Escritura, com seus 73 livros. Bento XVI a chama de “alma de toda a teologia”. Sabemos que os seus escritos são uma revelação divina, por ter o sinete do Espírito Santo (que age também quando a Palavra é lida). Mas nem tudo o que Jesus ensinou está na Bíblia. Por isso o cristão precisa de uma segunda regra de fé, que é a santa Tradição. Esta se resume nos ensinamentos não escritos na Sagrada Escritura. Por exemplo, quais são os livros inspirados da Bíblia; quantos sacramentos Jesus nos deixou; qual o nosso comportamento diante do aborto…Tais ensinamentos nos vieram pela Tradição viva. Esse sadio depósito da fé é guardado no seio do povo de Deus.  Portanto, não só a Bíblia nos conduz “à obediência da fé”  ( Rom 1, 5) mas também a grande Tradição da Igreja. Um exemplo da força dessa Tradição é o dogma da ascensão de Maria ao céu, de corpo e alma. Embora isso não esteja nas Escrituras, veio até nós como ensinamento vivo do povo de Deus.