Igrejas de Fortaleza preparam retorno às atividades presenciais

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Com a abertura gradual prevista para o dia 5 de setembro, templos deverão obedecer normas sanitárias indicadas pela Arquidiocese. Uso de álcool em gel e distanciamento físico entre fiéis estão entre as principais orientações

Quase seis meses após a paralisação das celebrações eucarísticas por conta da pandemia de Covid-19, os templos católicos de Fortaleza reabrirão as portas a partir do próximo dia 5 de setembro, conforme anúncio feito ontem por Dom José Antônio Marques, arcebispo da Capital. O retorno gradativo das atividades religiosas presenciais exigirá das igrejas a execução de um protocolo sanitário. Na ausência deste, as unidades deverão continuar fechadas até que se adaptem ao novo contexto. Contudo, parte dos santuários da cidade já está mobilizada com medidas de segurança para evitar a disseminação do novo coronavírus SARS-CoV-2.

Apesar da volta da agenda presencial acontecer somente agora, as igrejas tinham autorização para funcionar desde o último dia 22 de junho, quando Fortaleza avançou para a Fase 2 do plano de retomada das atividades econômicas, o que permitiu a reabertura com até 20% da capacidade total. Já ao iniciar a Fase 4, no dia 20 de julho, os eventos católicos poderiam ser realizados com 50% da capacidade. Nas duas ocasiões, entretanto, a Arquidiocese optou por continuar com os templos fechados até que as condições permitissem o “funcionamento pleno”.

A decisão de abrir as igrejas para missas e cerimônias de sacramentos, como batizados, primeira eucaristia e casamentos, ocorreu no mesmo momento em que Fortaleza conseguiu reduzir pela 15ª semana consecutiva a média diária de mortes por Covid-19. De acordo com o prefeito Roberto Cláudio, são 1,6 mortes por dia, sendo o menor índice desde o início da pandemia.

Adaptação

Com a liberação, a Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Manuel Sátiro, começou a preparação há cerca de um mês com o treinamento de vinte pessoas que farão a acolhida dos fiéis. Segundo o padre Gilson Soares, o grupo ficará distribuído nas portas de entrada da igreja e no estacionamento para aferir a temperatura, disponibilizar álcool em gel e encaminhá-los aos assentos nos bancos ou cadeiras, obedecendo à regra de distanciamento social de, no mínimo, dois metros.

“Eu posso dizer que a nossa paróquia está pronta para iniciar todo esse procedimento junto à comunidade. Foi um período longo em que não tivemos missas e encontros de forma presencial, mas agora podemos retornar nos últimos meses do ano com mais tranquilidade e segurança para a saúde de todos”, atesta o pároco.

Em carta circular enviada a paróquias, áreas pastorais e comunidade eclesiástica, além da criação da equipe de acolhida, Dom José orienta que as igrejas poderão aumentar o número de missas aos sábados, a partir do meio-dia, e aos domingos, já que as celebrações contarão com uma quantidade menor de católicos. Os templos devem disponibilizar álcool em gel para higiene das mãos dos fiéis, que deverão manter o distanciamento de dois metros e usar máscara de proteção, podendo ser retirada apenas no rito da comunhão.

O recolhimento das ofertas ou dos dízimos ocorrerá somente ao fim da celebração pela equipe responsável. O abraço da paz, que antecede a comunhão, não será permitido. Na recepção da Eucaristia, os fiéis devem manter o distanciamento nas filas. Por outro lado, continuam suspensos eventos que tenham aglomeração de pessoas, como peregrinações, procissões, festas, romarias, concentrações religiosas e acampamentos.

Missas

A Igreja de Fátima, templo que reúne anualmente milhares de devotos de Nossa Senhora, vai continuar transmitindo via redes sociais as missas para aqueles do grupo de risco da Covid-19. Conforme recomendação da Arquidiocese, pessoas com diabetes ou hipertensão, por exemplo, devem acompanhar as celebrações de modo remoto ou participar das que acontecerão na semana por ter “menos presença de fiéis”, afirma o comunicado oficial.

“Os que são do grupo de risco, por gentileza, fiquem em casa, porque você já tem o seu preceito cumprido quando assiste à missa pela televisão, internet ou redes sociais. A Arquidiocese quer, com isso, preservar a sua vida, a vida da sua família e de todos nós”, reforça padre Ivan, pároco do santuário.

“Esse retorno deve ser gradativo e toda a igreja está sendo organizada nesse sentido. Nós já fizemos duas higienizações em toda a igreja. Na próxima semana também vai acontecer outra para que tenha segurança para os fiéis. Nós estamos nos adequando para esse tempo novo que vem e precisamos”, pondera.

Horas depois da divulgação oficial do documento que orienta sobre a reabertura das igrejas, a Comunidade Católica Shalom, que administra a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, no Centro, e 27 Centros de Evangelização em Fortaleza, reuniu na tarde de ontem (27) um grupo de coordenadores para discutir a implementação das normas. Até a data de retorno, são nove dias, tempo suficiente para colocar em prática todas as orientações, como frisa o padre Sílvio Scopel, membro da congregação.

“A partir da publicação, a comunidade começou um movimento de preparação. Eu digo, com muita serenidade, que nós vamos seguir todas as normas. Nesse momento, eu ainda não consigo te dizer o que de concreto nós já temos, mas as reuniões a partir das 16h vão determinar como será esse processo. Como nós temos nove dias, essa decisão requer celeridade e nós vamos conseguir”, enfatiza.

O comunicado que trouxe os protocolos de segurança para os templos católicos da Capital foi baseado em um texto geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). De acordo com o padre Rafhael Silva Maciel, da Arquidiocese de Fortaleza, a mensagem original passou por adaptações de escrita “para facilitar o entendimento”. Para o sacerdote, que hoje mora em Roma, o conteúdo foi recebido com rápida satisfação.

“A notícia correu como fogo no pavio, graças a Deus, porque é uma notícia boa para os fiéis. Pelas reações que temos sentido via redes sociais, de modo muito particular, seja dos padre ou dos próprios fiéis que ficaram mais de cinco meses sem a presencialidade nas missas, a reação tem sido a melhor possível”.

O padre acrescenta, no entanto, que as medidas de contenção da Covid-19 não devem se restringir apenas à igreja. A prevenção deve ser comunitária.

“Não depende só de nós, padres, mas muito dos fiéis. Se eles saem de casa a pé para a igreja, claro que eles precisam evitar o contato físico no caminho. Se cada um fizer a sua parte vai dar pra gente fazer esse retorno com muita tranquilidade”, avalia.
Para além da adaptação do ambiente externo, padre Rafhael reflete que deve haver ainda uma preparação espiritual de cada fiel para o reencontro em comunidade diante do Santíssimo. “Os agentes pastorais deverão ajudar os fiéis a preparar o coração para chegarem bem na celebração e também para ajudar cada pessoa a entender esse tempo que nós vamos retomar, porque pode ser que alguém diga que não goste de usar máscara, mas espiritualmente vai ser um sacrifício individual por um bem maior, que é receber a santa comunhão”.

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