O significado de cada petição que fazemos no Pai Nosso

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Jeffrey Bruno

Chamar Deus de Pai é uma ousadia filial, e Ele quer que sejamos ousados

A oração é uma recordação de Deus, como um despertar frequente da “memória do coração” (CIC 2697). A oração é fruto da vida, é um filho que fala com seu Pai dos cansaços, das conquistas e frustrações, alegria e tristezas, êxitos e fracassos. E, o elemento essencial para a oração é um coração humilde e contrito.

Quando os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1), Jesus ensinou-lhes a oração do “Pai Nosso”. Dois Evangelistas fazem essa narração. Lucas, de forma mais breve, com apenas cinco petições (Lc 11,1ss) e Mateus, de forma mais longa, com sete petições (cf. Mt 6,9ss). Este último é a que usamos para a nossa oração.


O “Pai Nosso” é chamado oração dominical e oração do Senhor, porque não foi feita por mãos humanas, mas revelada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. A primeira parte do “Pai Nosso” é na verdade um pôr-se na presença de Deus nosso Pai. A segunda são as petições em relação às nossas necessidades.


Rezar: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Teu nome; venha a nós o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu” é pôr-se na presença de Deus Pai para adorá-Lo, amá-Lo e para bendizê-Lo. Essa primeira parte é uma louvação, adoração e declaração de amor.

Ao ensinar os Apóstolos a rezar, Jesus começa com “Pai”. Isso demonstra que essa palavra já tinha sido elaborada, fazia parte do cotidiano e havia sido internalizada. Ele verbaliza aquilo que a sua filiação sentia. Chamar Deus de Pai é uma ousadia filial e Ele quer que sejamos ousados, porque o filho não tem medidas: ele pede, implora, chora, grita e esperneia, mas não

desiste. Somos autorizados por Jesus a ter essa ousadia, pois não estamos nos relacionando com um Deus abstrato ou distante. Jesus estabelece uma relação íntima entre nós e o Pai.


“Santificado seja O Vosso Nome”, significa: santificada seja a Vossa paternidade. Santificar o Nome de Deus é antes de mais nada um louvor que reconhece a Deus como Santo. “Venha a nós o Vosso reino”, porque que o reino é o de Nosso Senhor, somos chamados a antecipar o Reino, de fazê-lo acontecer aqui e agora.


A quarta e a quinta petições dizem respeito à nossa vida, seja no alimento material e espiritual ou para pedir a cura do pecado. “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” diz respeito ao alimento, mas em não armazenar, porque o que acumulamos em nossa dispensa, na nossa avareza, é a fome do nosso irmão.

Então, como rezar o “Pai Nosso” com tanta gente de barriga vazia? Como rezar essa oração quando há tanto desperdício de alimento e com tanto consumismo? Como pedir o pão de cada dia e sermos idólatras do dinheiro? Jesus não disse somente “dai-nos o pão nosso”, Ele incluiu “de cada dia”. Um grande santo disse que devemos pedir o pão de cada dia para nos lembrar do quanto somos necessitados de Deus. Ele nos dá o pão de cada dia como outrora no deserto deu o Maná, para mostrar o quanto é misericordioso.


A sexta e a sétima petições dizem respeito ao combate espiritual que somos chamados a travar, cuja vitória é de quem permanece na oração. “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Rezar e perdoar, na verdade, requerem de nós um exame de confiança permanente. Quem eu ainda não perdoei? Quem ainda me falta perdoar? Nós sabemos que Deus perdoa, mas só conseguiremos ser perdoados por Ele na medida em que perdoarmos os nossos irmãos. A partir do momento que perdoamos e temos nossa memória purificada, o que era motivo de sofrimento transforma-se em motivo de intercessão, em oração por aquela pessoa.


“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal” é uma afirmação que a tentação faz parte de nossa vida, não mandada por Deus, mas permitida por Ele. Nossos pecados são frutos da nossa fraqueza diante da tentação e essa petição é um pedido de discernimento, de fortaleza para vencermos as tentações, vigiando e orando. Pedimos que Deus nos livre do mal do presente, do passado, do futuro e nos afaste de tudo aquilo que nos faz perder a salvação.


Proponho que, depois de ler este artigo, a próxima vez que nos dirigirmos a Deus para fazer esta oração, a façamos calmamente, refletindo sobre o seu significado e os compromissos que estamos assumindo.


Rezemos:


    “Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, vem a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

Padre Reginaldo Manzotti