Você confia na Igreja?

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* Por Dom Redovino Rizzardo, Bispo de Dourados (MS)

No final de fevereiro de 2012, a Fundação Getúlio Vargas divulgou uma pesquisa indicando o índice de credibilidade dos brasileiros em algumas instituições do país. A coleta de dados ocorreu em vários Estados, entre os meses de outubro de dezembro de 2011. Foram ouvidas 1550 pessoas.

As Forças Armadas são a instituição mais confiável aos olhos da população, com 72% na preferência dos entrevistados. Em segundo lugar, ficou a Igreja Católica, com 58% e, em terceiro, o Ministério Público, com 51%. O Poder Judiciário despencou para a sexta posição, atrás das grandes empresas e da imprensa escrita. A rabeira do ranking, como há anos acontece, é ocupada pelos partidos políticos e pelo Congresso Nacional.

A partir da pesquisa, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo emérito de Guarulhos, teceu algumas considerações. Nos primeiros meses de 2010, a Igreja Católica não ia além do sétimo lugar, com 34% da preferência nacional – provavelmente devido aos crimes de pedofilia cometidos por alguns sacerdotes. Mas, poucos meses depois, após os debates sobre o aborto que precederam as eleições de outubro, ela subiu para o segundo lugar, obtendo 54% de adesão dos consultados. A variação de 20% corresponde a um acréscimo de 38 milhões de brasileiros, que voltaram a acreditar na Igreja Católica.

Comparando entre si as pesquisas de 2010 e 2011 verifica-se um aumento de 4%. «Ter 58% de confiança da população brasileira – conclui Dom Luiz – significa que 110,2 milhões de pessoas consideram a Igreja Católica confiável».

Em se falando de Igreja, porém, jamais a pesquisa consegue retratar aquilo que constitui a sua verdadeira grandeza. «O homem fica nas aparências, mas Deus olha o coração» (1Sm 16,7). Talvez seja por isso que Deus não aprovou o censo de Israel decretado por Davi (Cf. 2Sm 24): não poucas vezes, o que os números revelam é a tentação do poder. O crescimento da Igreja acontece a partir da conversão interior e se concretiza na construção do Reino de Deus, que é «justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14,17).

Para levar adiante essa missão, a Igreja conta com a proteção e a presença de Jesus que, depois de denominá-la carinhosamente “a minha Igreja”, garantiu que as forças do mal jamais conseguirão destruí-la (Cf. Mt 16,18), apesar de ser formada por pessoas falíveis e pecadoras. O jornalista Peter Seewald no livro-entrevista que escreveu sobre Bento XVI, em 2010, lembra que, na via-sacra que pregou em Roma poucos dias antes de ser eleito Papa, o então Cardeal Ratzinger não hesitou em admitir: «Quantas vezes celebramos somente a nós mesmos, sem nos dar conta de Cristo! Quantas vezes a sua Palavra é distorcida e desonrada! Quanta sujeira existe na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer somente a Deus!».

Em seguida, respondendo a uma pergunta do repórter, o Papa continuou: «O mal fará sempre parte da Igreja. Aliás, se se considera tudo o que os homens – e o clero – fizeram na Igreja, isso se transforma numa prova a mais de que é Cristo que sustenta e que fundou a Igreja. Se dependesse somente dos homens, ela já teria afundado há muito tempo!».

Por fazerem parte de uma humanidade sempre inclinada ao pecado – mas sempre amada por Deus – os cristãos precisam viver em estado permanente de conversão: «Uma experiência que atravessa os séculos é que, pelo pecado original – explica o Pontífice – o homem é seguidamente tentado pelo paganismo. Ele volta a ser pagão, na acepção mais profunda do termo, toda vez que quer ser autônomo e independente. Mas, ao mesmo tempo, sempre de novo resplandece nele a presença divina. Esta é a luta que atravessa a história».

Apesar de tudo, Bento XVI – e a maior parte da população brasileira – agradecem a Deus porque a Igreja existe: «Não se pode perder de vista todo o bem que acontece graças à Igreja Católica; levar em conta quantas pessoas são apoiadas no sofrimento, quantos enfermos e quantas crianças recebem assistência, quanta ajuda é oferecida. Penso que, se devemos dolorosamente admitir a existência do mal na Igreja Católica, também devemos tornar visível toda a luz irradiada por ela e ser-lhe agradecidos. Se ela deixasse de existir, setores inteiros de vida entrariam em colapso».