A Igreja celebra em 31 de julho a festa litúrgica do santo fundador de uma das ordens religiosas mais importantes da história: os jesuítas, ou sacerdotes da Companhia de Jesus.
Infância e adolescência
Conhecido como Santo Inácio de Loyola, o seu nome original era Íñigo López, nascido em Loyola, no atual município espanhol de Azpeitia, em 31 de maio 1491. Caçula dos treze filhos de Beltrán Ibáñez de Oñaz e Marina Sánchez de Licona, ele perdeu a mãe já nos primeiros instantes depois que ela o deu à luz.
Em 1506, pouco antes de morrer, seu pai o enviou para Arévalo, em Castela, a fim de receber uma boa educação na casa de Juan Velázquez de Cuellar, ministro do rei Fernando, o Católico. Íñigo acompanhou o ministro, como pajem, às cidades para onde a corte itinerante se movia, e foi assimilando as boas maneiras que viriam a ser de grande impacto no seu trabalho futuro.
Após a morte de Juan Velázquez, Íñigo se pôs a serviço de Antonio Manrique, duque de Nájera e vice-rei de Navarra, lutando em sua defesa inclusive no cerco do castelo de Pamplona pelos franceses. Era 20 de maio de 1521 quando uma bala de canhão dos sitiantes o atingiu na perna. Levado para casa, em Loyola, Íñigo passou por duas dolorosas cirurgias na perna, que deixaram uma delas mais curta que a outra e fizeram mancar pelo resto da vida.
Nessas adversidades, porém, o Senhor moldava a alma daquele jovem inquieto.
Durante a sua longa convalescença, começou a ler, primeiro com indiferença e depois com grande atenção, dois livros amarelados que sua cunhada lhe oferecera: “Vita Christi” (A vida de Cristo), de Ludolfo Cartusiano, e a “Legenda Aurea” (Vida dos santos), de Jacopo da Voragine. A meditação destas leituras o convenceu de que o único Senhor verdadeiro a quem valia a pena dedicar a perfeita lealdade do cavaleiro era Jesus Cristo.
Para marcar o início da nova vida, ele decidiu ir a Jerusalém como peregrino assim que se recuperou. Partiu em fevereiro de 1522 de Loyola rumo a Barcelona, parando, a caminho, na abadia beneditina de Montserrat. Ali fez confissão geral, se despojou dos trajes de cavaleiro, vestiu roupas de homem pobre e deu o primeiro passo para uma vida religiosa ao professar o voto de castidade perpétua.
Uma epidemia de peste, recorrente naqueles tempos, o impediu de chegar a Barcelona. Parou então em Manresa e, durante mais de um ano, levou uma vida de oração e penitência nas proximidades do rio Cardoner, onde conta ter sentido a inspiração de fundar uma companhia de pessoas consagradas a Deus. Essa inspiração o transformou completamente. Numa caverna da região, em solidão humana, começou a escrever uma série de meditações e normas que foram posteriormente retrabalhadas para formar os famosos “Exercícios Espirituais”, ainda hoje fonte riquíssima de energia para os jesuítas e para católicos do mundo inteiro.
Roma, Terra Santa e de volta à Espanha
Chegando finalmente a Barcelona em 1523, decidiu não mais embarcar diretamente para Jerusalém, mas sim para Gaeta, na Itália, de onde partiu para Roma. Foi recebido e abençoado pelo último Papa não italiano antes de São João Paulo II: o holandês Adriano VI. Seguiu para Veneza e então zarpou para a Terra Santa.
Enquanto visitava os Santos Lugares, quis permanecer em Jerusalém, mas não obteve permissão do superior dos franciscanos, a quem cabia a custódia local. Em 1524, retornou à Espanha e, consciente de precisava aprofundar os seus estudos em geral e os seus então escassos conhecimentos teológicos em particular, começou aos 33 anos a estudar a gramática latina, em Barcelona, e, na sequência, iniciou os estudos universitários em Alcalá e Salamanca. Mal-entendidos o impediram de completar os estudos na Espanha, o que o obrigou, em 1528, a se mudar para Paris.
Permaneceu até 1535 no influente centro político e cultural francês, onde se doutorou em filosofia. Em 15 de agosto de 1534, fez juntamente com seis outros estudantes, na capela de Saint-Denis, na igreja de Santa Maria em Montmartre, os votos de pobreza e castidade: eram eles o francês Pedro Fabro, o português Simão Rodrigues e os espanhóis Francisco Xavier, Alfonso Salmerón, Diego Laynez e Nicolau de Bobadilla. O grupo também prometeu viajar a Jerusalém e, se isto não fosse possível, colocar-se à disposição do Papa a fim de que ele decidisse que tipo de vida apostólica eles exerceriam. Foi nessa ocasião que Íñigo latinizou o seu nome basco para Inácio, em evocação do santo bispo mártir Inácio de Antioquia.
A guerra entre os territórios cristãos europeus e os turcos otomanos tornava praticamente inviável qualquer viagem até Jerusalém. Na companhia de Pedro Fabro e Diego Laynez, Inácio viajou a Roma em outubro de 1538 para colocar o grupo à disposição do Papa Paulo III, que lhes disse:
“Por que tanto querem ir a Jerusalém? Para dar frutos na Igreja de Deus, a Itália é uma boa Jerusalém”.
Em 27 de setembro de 1540, Paulo III aprovou a Companhia de Jesus com a bula “Regimini militantis Ecclesiae”. Em 8 de abril de 1541, Inácio foi eleito, por unanimidade, o Superior Geral da ordem. Em 22 de abril, junto com seis companheiros, fez a profissão religiosa na Basílica de São Paulo.
De 1544 a 1550, Inácio elaborou as constituições da companhia. Nessa época, seus filhos espirituais já começavam a se espalhar pelo mundo. Ele, porém, a pedido do Papa, ficou em Roma para coordenar as atividades dos jesuítas.
Doença, morte e canonização
Nessa época, Inácio padecia excruciantes dores no estômago devido a uma doença da vesícula biliar e a uma cirrose hepática mal tratada. Para cumprir todos os seus compromissos e ter tempo para a oração e a celebração da Santa Missa, dormia apenas quatro horas por noite. A doença limitou gradativamente as suas atividades, até que, em 31 de julho de 1556, o soldado de Cristo partiu da batalha desta vida numa sala modesta da casa situada perto da capela de Santa Maria della Strada, em Roma.
Foi proclamado beato em 27 de julho de 1609 pelo Papa Paulo V e canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV.
Os jesuítas se tornaram uma das ordens religiosas mais importantes da história da Igreja.