A ressurreição do coração

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João 11, 1-45

Os relatos do Evangelho não existem só para serem lidos, mas também para serem vividos. A história de Lázaro foi escrita para nos dizer isto: há uma ressurreição do corpo e uma ressurreição do coração; se a ressurreição do corpo ocorrerá «no último dia», a do coração sucede, ou pode ser feita, a cada dia.

Este é o significado da ressurreição de Lázaro, que a liturgia quis sublinhar com a eleição da primeira leitura de Ezequiel sobre os ossos secos. O profeta tem uma visão: contempla um monte de ossos secos e compreende que representam a moral do povo, que está abatida. As pessoas vão dizendo: «Se desvaneceu nossa esperança, tudo se acabou para nós».

Para eles dirige a promessa de Deus: «Eis aí que eu abro vossos sepulcros; vos farei sair de vossos túmulos… Infundirei meu espírito em vós e vivereis». Neste caso tampouco se trata da ressurreição final dos corpos, mas da ressurreição atual dos corações à esperança. Aqueles cadáveres, se diz, se reanimaram, se puseram em pé e eram «um enorme, imenso exército». Era o povo de Israel que voltava a ter esperarança, após o exílio.

De tudo isso deduzimos algo que sabemos por experiência: que se pode estar mortos… inclusive antes de morrer, enquanto ainda estamos nesta vida. E não falo só da morte da alma por causa do pecado; falo também daquele estado de total ausência de energia, de esperança, de desejo de lutar e de viver que não se pode chamar com nome mais indicado que este: morte do coração.

A todos aqueles que pelas razões mais diversas (fracasso matrimonial, traição do cônjuge, perdição ou enfermidade de um filho, ruínas econômicas, crises depressivas, incapacidade de sair do alcolismo, da droga) se encontram nesta situação, a história de Lázaro deveria chegar como repique de sinos na manhã de Páscoa.

Quem pode dar-nos esta ressurreição do coração? Para certos males, bem sabemos que não há remédio que valha. As palavras de alento abandonam o terreno que encontram. Também na casa de Marta e Maria havia judeus para consolá-las, mas sua presença não havia mudado nada. É necessário «mandar chamar Jesus», como fizeram as irmãs de Lázaro. Invocá-lo, como fazem as pessoas sepultadas por uma avalanche ou sob os escombros de um terremoto, que chamam com seus gemidos a atenção dos resgatadores.

Frequentemente as pessoas que se encontram nesta situação não são capazes de fazer nada, nem sequer de orar. Estão como Lázaro no túmulo. É preciso que outros façam algo por elas. Nos lábios de Jesus encontramos uma vez este mandamento dirigido a seus discípulos: «Curai os doentes, ressuscitai os mortos» (Mt 10, 8). O que queria dizer Jesus? Que devemos ressuscitar fisicamente os mortos? Se assim fosse, na história se contam com os dedos de uma mão os santos que puseram em prática este mandato de Jesus. Não; Jesus se referia, também e sobretudo, aos mortos de coração, aos mortos espirituais. Falando do filho pródigo, o pai diz: «Estava morto e voltou à vida» (Lc 15, 32). E não se tratava certamente de morte física, havia regressado a casa.

Aquele mandato: «Ressuscitai os mortos», se dirige portanto a todos os discípulos de Cristo. Também a nós! Entre as obras de misericórdia que aprendemos desde crianças, há uma que diz: «enterrar os mortos»; agora sabemos que existe também a de «ressuscitar os mortos».

* Por Frei Raniero Catalamessa