- Dom Caetano Ferrari, Diocese de Bauru
A animação missionária da Igreja é o assunto que ocupa a Liturgia durante este mês missionário de outubro. É bom lembrar que a Igreja nos ensina que a missão vem de Deus, nasce do coração da Trindade Santa. Como lemos nos documentos do Concílio Vaticano II, a origem da missão é o “amor fontal” de Deus (Ad Gentes, 2). Por isso, diz respeito antes ao que “Deus é em si mesmo e não, primeiramente, ao que Deus faz”. E, em sua essência divina, Deus é Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Sendo amor, então, Deus não existe só, não é uma ilha nem solidão, como alguns já disseram, mas Deus é comunhão de pessoas. Nós cremos num só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Filosófica e teologicamente, diz-se que Deus é difusivo de si mesmo, transbordante, que não se contem como se não coubesse dentro si, nem se deleita na auto-complacência consigo mesmo. Popularmente, dizemos que Deus não é nem pode ser egoísta. Ao contrário, por força do amor, Deus é o poderoso que saiu e sai de si para gerar vida, a vida do mundo com todas as coisas de dentro e de fora, e a vida dos seres humanos. A meu ver, vale a pena parar para pensarmos na maneira como Santo Agostinho falou do Amor e da Trindade: “Onde existe o Amor existe a Trindade: um que ama, um que é amado e uma fonte de amor”. Pois bem, os seres humanos, Deus os fez homem e mulher, e os criou à sua imagem e semelhança. Na Bíblia, está escrito que tudo o que Deus criou e fez, Ele viu que era muito bom. Depois, ainda sob o impulso do amor, Deus saiu para ir ao encontro da humanidade a fim de se revelar, apresentando-se como “Eu sou Aquele que sou” e de estabelecer uma aliança de vida e amor com homens e mulheres, chamando-os a partilhar de sua própria vida e glória e constituindo-os num povo, o seu povo.
Quando chegou o tempo certo, Deus Pai enviou ao mundo o seu Filho amado para completar a revelação do mistério insondável da sua natureza divina, do sentido da vida, do seu plano de salvação e redenção da humanidade, do destino final da criação, do Reino dos céus. Jesus, por sua Encarnação, realizou a mais perfeita aproximação do céu com a terra, do divino com o humano, por sua vida, estabeleceu o mais estreito encontro de Deus com o homem, e, por sua redenção, operou a redenção de todos os homens e mulheres, e é o garante da glorificação de toda a criação (Ad Gentes, 3). Jesus é o maior missionário enviado ao mundo pelo Pai. Por Ele Deus veio ao nosso encontro: “A Palavra de Deus se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1, 14ª).
Jesus Cristo, tendo subido ao céu, enviou o Espírito Santo prometido. O Espírito, porém, foi derramado em Pentecostes para dar origem à Igreja e impulsionar a missão que Jesus deixou à Igreja como tarefa que Ele recebeu do Pai, isto é, de levar a cabo a obra da salvação (Ad Gentes, 4). O Espírito Santo, que já atuava antes da glorificação de Cristo, é quem conserva a Igreja na unidade e comunhão e a fortalece com diversos dons hierárquicos e carismáticos, com os quais a dirige e embeleza. O Espírito é o santificador da Igreja, habita nela e nos corações dos fiéis, como num templo, e neles ora. Ele é ainda a alma da Igreja, sopra onde quer e renova a Igreja e a impele a evangelizar todos os povos (Ad Gentes 4; Lumen Gentium, 4).
Jesus Cristo confiou a missão evangelizadora aos seus discípulos e à Igreja: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os” (Mt 28,19). Com Pentecostes, começou essa missão de evangelizar toda criatura, animada pelo Espírito, com a oferta do batismo a todos os que crêem em Jesus (cf. Mc 16,15). Essa missão prossegue pelo tempo afora e por todas as partes do mundo.
Por tudo o que aqui se disse, resumidamente, é que vem se afirmando como verdade que: “Deus é Missão”; “Jesus é o primeiro e o maior missionário do Pai”; “A Igreja recebeu de Jesus a tarefa de evangelizar toda gente, no poder do Espírito Santo”; “A Igreja existe para ser missionária”; “Evangelizar constitui a missão da Igreja, sua identidade e sua própria razão de ser”; “Nossa vocação comum é sermos discípulos e missionários de Jesus”.
No Evangelho da Missa de hoje – Lc 17, 11-19 – vemos Jesus realizando mais uma obra de misericórdia, desta vez, curando dez leprosos num povoado da Samaria. Jesus disse-lhes: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. E, enquanto iam, ficaram curados. Mas só um voltou para agradecer a Jesus, exatamente um samaritano – os judeus não gostavam dos samaritanos. Jesus, então, aproveitou o fato para dizer aos que o acompanhavam: “‘Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro? ’. E disse-lhe: ‘Levanta-te e vai! Tua fé te salvou’”.
Não existe missão verdadeira sem misericórdia. Evangelizar a partir de Jesus Cristo é fazer o bem como Ele o fez.
Oremos para que sejamos Igreja missionária e misericordiosa.