Artigo: Festa da Epifania

39

* Por Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald


Em muitos lugares aqui no Nordeste do Brasil o povo celebra a “Festa dos Santos Reis” no dia 6 de janeiro com a apresentação de folguedos populares e queima da lapinha. É o encerramento do ciclo natalino. Neste ano de 2013 a Igreja Católica celebra no domingo, dia seis de janeiro a Epifania do Senhor; Isto é, a manifestação do Messias a todos os povos do mundo. Epifania significa “manifestação”. Recorda para nós a adoração do menino Deus pelos Magos, representantes do mundo inteiro conhecido naquele tempo. Historicamente falando, a Festa dos Magos ou da Epifania é uma duplicata: enquanto o ocidente celebrava Natal no dia 25 de dezembro, no 4º. século introduziu-se aí, também, a festa natalina dos cristãos orientais, a Epifania, celebrada no dia 6 de janeiro. Será difícil dizer se os magos eram sacerdotes persas ou astrólogos babilônicos. Moravam no Oriente, o que pode significar a Arábia, Babilônia, a Mesopotâmia ou a Pérsia. A julgar pelos presentes que traziam teriam vindo da Arábia. Porém, é mais provável que fossem sábios astrólogos da Babilônia que conheciam o messianismo judaico. O número tradicional (os “três reis magos”) baseia-se, provavelmente, apenas no número de presentes. É importante lembrar que os magos só são mencionados em apenas um dos quatro evangelhos, o de Mateus, e ele não especifica o número deles. Sabe-se apenas que eram mais de um, porque a citação está no plural. De qualquer forma, a tradição permaneceu viva e foi apenas no século lll que eles receberam o título de reis – provavelmente como uma maneira de confirmar a profecia contida no Salmo 72: “Todos os reis cairão diante dele”.


Os nomes Melchior, Baltasar e Gaspar só são mencionados a partir do século Vll. Peritos como Beda os consideram representantes da Europa (Melchior), Ásia (Baltasar) e da África (Gaspar). Curiosamente certas relíquias, que se supunham serem os ossos dos três magos, foram transladadas no século Xll de Milano para a catedral da Colônia, onde são veneradas até hoje. De acordo com uma tradição medieval, os magos teriam se reencontrado quase 50 anos depois do primeiro Natal, em Sewa, uma cidade da Turquia, aonde viriam a falecer. Mais tarde, seus corpos teriam sido levados para Milano, na Itália. “Não sei quem está enterrado lá, mas com certeza não são eles”, diz o teólogo Jaldemir Vitório, do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte. Mas isso não diminui a beleza da simbologia do Evangelho de Mateus ao narrar o nascimento de Cristo. Afinal, devemos aos magos até a tradição de dar presentes no Natal.


A Igreja Católica considerou os presentes como símbolos da pessoa e do mistério de Jesus: realeza (ouro), divindade (incenso), morte e sepultura (mirra). Tradicionalmente a estrela é considerada o sinal de Deus que lhes apresentava Jesus como o Rei-Messias. Na noite do Natal, o menino Deus recebeu a visita dos humildes pastores que representam os pobres da humanidade inteira. Nascendo em chocante pobreza e revelando-se primeiramente aos pobres, Jesus quis mostrar que Deus os ama muito. Mas Jesus é o salvador de toda a humanidade, por isso recebe a visita dos magos, estrangeiros, ricos e letrados. Os magos viviam em países longínquos, que o povo de Israel lembrava com certa amargura: a Babilônia, terra do exílio; a Arábia, terra inóspita para os Israelitas. E agora, representantes dessas terras vão adorar o Messias na cidade de Davi, Belém. O menino Deus nascido em Belém atraiu os que viveram longe dele, quer geográfica, quer cultural ou ideologicamente. Os magos simbolizam os homens e mulheres de todo o mundo que buscam a Deus. Jesus não é privilégio de nenhuma raça, de nenhum grupo, de nenhuma classe social. Nasceu e morreu para a salvação de todos: pobres e ricos, das raças branca, negra e amarela, analfabetos e pessoas intelectualmente sofisticadas, pessoas de ideologias divergentes e de religiões diferentes. Que a Estela de Belém brilhe para todos os leitores no ano 2013.

Pe Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e assessor da CNBB, Reg. NE1