* Por Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, Arcebispo de Sorocaba – SP
Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral
“A Igreja no Brasil quer investir cada vez mais na formação de todos os católicos para que, nas mais diversas formas de seguimento e missão, sejam agentes deste contato vivo, apaixonado e comprometido com a Palavra de Deus. Assim, como toda a Igreja, todos os serviços eclesiais precisam estar fundamentados na Palavra de Deus e serem por ela iluminados. Para que isto aconteça, algumas atitudes e vivências tornam-se indispensáveis”( DGAE, n. 92).
As Escrituras Sagradas dão-nos, por inspiração do Espírito Santo, a Palavra de Deus (Dei Verbum ou Verbum Domini). Fazer das Escrituras Sagradas fonte permanente da vida cristã e da ação pastoral é missão essencial da Igreja.
Esta é a terceira urgência proposta pelas Diretrizes. Deixei para o final esta urgência de propósito, uma vez que a Palavra de Deus preside todo o processo evangelizador descrito nas outras urgências. Não se trata, portanto, de um momento que se possa separar ou distinguir dos outros. Trata-se de explicitar a alma-fonte permanente do ato evangelizador.
Antes de se tornar livro, a Palavra de Deus foi acontecimento. Desde a Criação, passando por Abraão, Moisés e os profetas, a Palavra atua fazendo história e, nos últimos tempos, revelou-se plenamente em Jesus Cristo. A Bíblia nos narra a história da Palavra e, pela sua leitura e escuta, a Palavra nos interpela e faz história em nossas vidas e na vida da humanidade. A Palavra é o Verbo, no qual tudo foi criado. “Nele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens” e “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”(Jo 1). O Santo Padre, João Paulo II, na Carta Apostólica “No Início do Novo Milênio”, colocou-nos como uma das prioridades para a nossa programação pastoral a “Escuta da Palavra”. Afirma o Santo Padre: “Não há dúvida que este primado da santidade e da oração só é concebível a partir duma renovada escuta da palavra de Deus… É preciso, amados irmãos e irmãs, consolidar e aprofundar esta linha, inclusive com a difusão do livro da Bíblia nas famílias. De modo particular é necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital, segundo a antiga e sempre válida tradição da lectio divina: esta permite ler o texto bíblico como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência”(n. 39). E acrescenta: “alimentar-nos da palavra para sermos servos da Palavra no trabalho da evangelização: tal é, sem dúvida, uma prioridade da Igreja no início do novo milênio”(n. 40). Fazendo eco a este ensinamento, o Doc. de Aparecida, ao se referir à Sagrada Escritura como lugar privilegiado do encontro com Cristo, insiste na necessidade de “educar o povo na leitura e na meditação da Palavra: que ela se converta em seu alimento para que, por experiência própria, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida (cf Jo 6,63). Do contrário, como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem profundamente? É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus” (n. 247). Na Introdução da Exortação Apostólica pós-sinodal “Verbum Domini”, o Papa Bento XVI nos mostra qual o grande objetivo do Sínodo: “Desejo, através desta Exortação Apostólica, que as conclusões do Sínodo influam eficazmente sobre a vida da Igreja: sobre a relação pessoal com as Sagradas Escrituras, sobre a sua interpretação na liturgia e na catequese bem como na investigação científica, para que a Bíblia não permaneça uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual. Com este objetivo, pretendo apresentar e aprofundar os resultados do Sínodo, tomando por referência constante o Prólogo do Evangelho de João (Jo 1, 1-18), que nos dá a conhecer o fundamento da nossa vida: o Verbo, que desde o princípio está junto de Deus, fez-Se carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1, 14). Trata-se de um texto admirável, que dá uma síntese de toda a fé cristã. A partir da sua experiência pessoal do encontro e seguimento de Cristo, João, que a tradição identifica com «o discípulo que Jesus amava» (Jo 13, 23; 20, 2; 21, 7.20), «chegou a esta certeza íntima: Jesus é a Sabedoria de Deus encarnada, é a sua Palavra eterna feita homem mortal». Aquele que «viu e acreditou» (Jo 20, 8) nos ajude também a apoiar a cabeça sobre o peito de Cristo (cf. Jo 13, 25), donde brotou sangue e água (cf. Jo 19, 34), símbolos dos Sacramentos da Igreja. Seguindo o exemplo do Apóstolo João e dos outros autores inspirados, deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo para podermos amar cada vez mais a Palavra de Deus”(VD 5). As Diretrizes insistem que a Palavra e Deus é o coração da Iniciação à vida cristã (n.45) e mostra como se tornou urgente neste momento de crise cultural ter na Palavra de Deus o fundamento inabalável da própria vida – rocha – ”para atravessar um período histórico de pluralismo e de grandes incertezas”(n.47). O mesmo documento – DGAE – ,aponta no capítulo IV algumas perspectivas de grande significado para que,de fato, a Palavra de Deus, a nós oferecida nas Escrituras, se torne o alimento cotidiano da vida cristã. É dever nosso criar os meios para que assim aconteça.