Bento XVI: olhar de Jesus recai sobre os oprimidos

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Meditação no Angelus do último domingo


Apresentamos a intervenção que Bento XVI dirigiu no último domingo, 3 de julho, ao meio-dia, falando da janela de seu apartamento a milhares de peregrinos congregados na Praça de São Pedro, no Vaticano, para rezar a oração do Angelus.


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Queridos irmãos e irmãs:


Hoje no Evangelho, o Senhor Jesus nos repete estas palavras que conhecemos tão bem e que sempre nos comovem: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30). Quando Jesus percorria as ruas da Galileia anunciando o Reino de Deus e curando muitos enfermos, sentia compaixão da multidão, porque estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor (Cf. Mt 9, 35-36).


Esse olhar de Jesus parece se estender até hoje, até nosso mundo. Também hoje recai sobre tanta gente oprimida por condições de vida difíceis, assim como desprovida de válidos pontos de referência para encontrar um sentido e uma meta para a existência. Multidões extenuadas que se encontram nos países mais pobres, provadas pela indigência; e nos países mais ricos também há muitos homens e mulheres insatisfeitos, inclusive enfermos de depressão. Pensemos, além disso, nos numerosos evacuados e refugiados, em quantos emigram arriscando sua própria vida. O olhar de Cristo recai sobre toda essa gente, e mais, sobre cada um destes filhos do Pai que está nos céus, e repete: “Vinde a mim, todos…”.


Jesus promete que dará a todos “descanso”, mas coloca uma condição: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Em que consiste este “jugo”, que, em vez de pesar, alivia, e, em lugar de abater, ergue?


O “jugo” de Cristo é a lei do amor, é seu mandamento, que Ele deixou para seus discípulos (Cf. Jo 13, 34; 15,12). O verdadeiro remédio para as feridas da humanidade – tanto materiais, como são a fome e as injustiças, e psicológicas e morais, causadas por um falso bem-estar – é uma regra de vida baseada no amor fraterno, que tem seu manancial no amor de Deus. Por isso é necessário abandonar o caminho da arrogância, da violência utilizada para procurar posições cada vez de maior poder, para assegurar o êxito a todo custo. Também por respeito ao meio ambiente é necessário renunciar ao estilo agressivo que predominou nos últimos séculos e adotar uma razoável “mansidão”. Mas sobretudo nas relações humanas, interpessoais, sociais, a regra do respeito e da não violência, quer dizer, a força da verdade contra todo abuso, pode assegurar um futuro digno ao homem.


Queridos amigos, ontem celebramos uma particular memória litúrgica de Maria Santíssima, ao louvar a Deus por seu Coração Imaculado. Que a Virgem nos ajude a “aprender” de Jesus a humildade verdadeira, a tomar com decisão seu jugo leve, para experimentarmos a paz interior e sermos capazes de consolar outros irmãos e irmãs que percorrem com cansaço o caminho da vida.