Como viver a espiritualidade na Semana Santa?

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• Esse tempo forte da Igreja, a Semana Santa, é centrada na Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo





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Pascom


Na vida litúrgico-pastoral da Igreja, há o Ano Litúrgico, que tem a responsabilidade de fazer com que as comunidades possam viver bem e celebrar a presença real de Jesus no nosso meio. O tempo mais denso do Ano Litúrgico é a Semana Santa. Este tempo forte é o ápice da vivência da Igreja. Eu posso participar dos movimentos da Paróquia, ser um dizimista fiel, mas se na Semana Santa eu coloco a minha espiritualidade “no cabide” e vou viver a esta Semana sem a Igreja, não sou um católico autêntico, que participa, conhece e faz o mesmo itinerário de Jesus Cristo: Paixão, Morte e Ressurreição.


Comecemos pelo Domingo de Ramos. Em Jerusalém, Jesus adentra a cidade montado em um jumentinho, aclamado com “Hosana ao Filho de Davi”. Contraria, assim, a tradição judaica que esperava um Messias glorioso, comandando um exército potente que iria acabar com todos aqueles que oprimiam o povo de Israel. Cristo chega triunfante, mas cheio de humildade. Vem selar uma aliança de amor com a humanidade. Ao participarmos da celebração do Domingo de Ramos, somos convidados a entrar com Jesus Cristo na cidade santa e acompanharmos passo a passo todo o desenrolar de sua entrega total pela Salvação da humanidade.

 

Na quinta-feira Santa inicia-se o Tríduo Pascal. São celebrações em três dias que sintetizam tudo o que aconteceu a Jesus com relação a sua Paixão, morte e ressurreição. Cada Igreja particular, no nosso caso, a Diocese de Fortaleza, na manhã da quinta-feira santa se reúne com seus presbíteros para celebrar, como Igreja, a unidade. Por essa razão, toda quinta-feira Santa, nas igrejas catedrais de todo o mundo, celebra-se a missa dos Santos Óleos, na qual estão todos os padres com o Bispo, onde há a celebração da unidade e a bênção dos óleos que serão usados nos sacramentos durante o ano. É um momento muito bonito da Igreja.


O Tríduo Pascal começa com a celebração da Ceia do Senhor, muito importante porque fazemos memória daquilo que Jesus realizou com os seus amigos: a instituição da Eucaristia. A Eucaristia nasceu de uma ação de graças do Nosso Senhor Jesus Cristo, quando ele disse: “Bendito seja Deus, este é o meu corpo que será entregue por vós, este é o meu sangue que será derramado por vós”. Nesse momento, Jesus deixa sua grande herança espiritual para a Semana Santa e por consequência para toda a Igreja. Não se pode falar em espiritualidade cristã sem se falar de Eucaristia.


Ao fim da ceia, Jesus se dispõe de suas vestes, abaixa-se e lava os pés dos discípulos, seus amigos. Isto se chama serviço. Este ato nos recorda que nós não podemos participar da Igreja se não servimos, pois a Eucaristia como serviço é a melhor prova de amor. Na quinta-feira Santa o presidente da celebração vai repetir este gesto de Jesus, lavando os pés dos demais sacerdotes. Com isso, ele convida a comunidade paroquial ao mesmo gesto, para que todos nós possamos viver profundamente essa realidade do abaixar-se e assim ver a grandeza da força do ser humano. Em seguida, a comunidade desnuda o altar: o Santíssimo é transposto para uma capela para a adoração dos fiéis até a celebração da vigília pascal. A Igreja fica em atitude de silêncio e de adoração.


O segundo movimento litúrgico do Tríduo pascal é a celebração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que não é uma santa missa. Este é o único dia no ano em que não existe missa em nenhuma Igreja. Às três horas da tarde há a celebração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é uma celebração litúrgica organizada para a gente dar um profundo mergulho nas dores de Jesus, quando ele é abandonado por seus amigos, negado, traído e entrega a sua vida por nós.


É um dia para mergulharmos na nossa humanidade. Quais cruzes nós carregamos? Todos nós as temos. Todo ser humano tem a suas dores. É importante entender que a grande missão pedagógica que Jesus nos dá é saber suportar as nossas cruzes, as nossas dores. No momento em que Jesus entrega o seu espírito todo mundo fica em silêncio e se ajoelha, em contrição. Aqui há todo um simbolismo. Nesse momento, o gênero humano se dobra diante do grande mistério do Santo que não tinha pecado, mas que assumiu os pecados da humanidade.


No sábado de manhã não há movimentos litúrgicos. É um dia de recolhimento para se preparar para a grande festa da noite da vigília pascal – que nós chamamos a mãe de todas as celebrações. Naquele momento, nós celebramos a vitória de Jesus Cristo sobre a morte. É uma celebração muito intensa, muito longa. Nós fazemos toda uma recapitulação da Palavra de Deus desde a libertação do povo de Israel, no Êxodo, até a vitória de Jesus sobre os grilhões da morte. A vigília encerra todo o Tríduo e abre a perspectiva para a vida nova.


Existe outro elemento muito importante na Vigília Pascal. Nesta noite se canta o Aleluia; ou seja, que o Cristo vitorioso é o Senhor, o mestre, o Salvador. Canta-se também o Glória. É uma celebração muito rica. Aí nós encerramos o Tríduo Pascal e começamos então a Páscoa Cristã; o momento da alegria, da vitória, da vida nova. Por que passamos 40 dias nos preparando com oração, penitência, jejum? Para celebrar bem esse novo nascimento, essa nova Páscoa, esse novo encontro com o Cristo vencedor.


A espiritualidade da Semana Santa é, portanto, centrada na pessoa de Jesus de Nazaré. Sem Jesus não há Semana Santa. É preciso que tenhamos essa consciência para vivenciar bem este momento e, assim, entendermos a nossa fé.

Texto compilado da palestra de  Pe. Sóstenes Tavares Luna, “A espiritualidade na Semana Santa”, ocorrida em 28/03/2014, durante o Encontrão de março do Encontro de Casais com Cristo (ECC)