Uma questão que aparece de forma recorrente nos nossos contatos com casais, sobretudo mais jovens, é: “Como superar as crises (que sempre chegam) sem nos deixarmos abater pelos limites de cada um?”. Essa pergunta não nos surpreende. Todos nós temos defeitos e limitações. No entanto, vimos na nossa experiência que algumas coisas são fundamentais para superar as inevitáveis dificuldades da vida de casal e de família.
Sem dúvida, a primeira delas foi o fato de termos ideais comuns em relação à vida e ao nosso futuro que, no nosso caso, estavam relacionados à nossa fé no amor de Deus por todos e à consequente decisão de vivermos para construir a fraternidade universal. Dedicamos nossa juventude a esse ideal de vida antes mesmo de nos conhecermos, e precisamente por meio dele é que nos encontramos (isso foi no Movimento dos Focolares, mas poderia ter sido numa ONG ou num trabalho humanitário).
Cada um de nós era muito exigente consigo mesmo e mais ainda na escolha de alguém para partilhar o próprio sonho. Possuíamos os mesmos valores e não priorizávamos projetos pessoais. Foi precisamente esse altruísmo que criou um alicerce sólido para o relacionamento que surgiu entre nós. Fomos apenas amigos durante quatro anos; depois, durante mais três anos, namoramos, noivamos e, enfim, nos casamos. Não se tratava de um relacionamento romântico: foi uma escolha bem madura.
A fidelidade aos nossos ideais e o fato de termos a mesma visão de mundo e a mesma vontade de contribuir para melhorá-lo, proporcionou-nos uma inabalável confiança mútua e nos assegurou uma fidelidade recíproca. Se algumas pessoas olham para si mesmas e outras olham uma para a outra, nós olhamos para um objetivo comum. Isso nos ajuda a não parar nos nossos defeitos ou diferenças ? seguimos em frente. Ajuda-nos também, quando erramos, a ter a simplicidade de nos perdoar e recomeçar. Assim, superamos com serenidade nossas crises.
Com o tempo, conhecendo-nos melhor, e, principalmente, com a chegada dos filhos, percebemos com mais nitidez nossas diferenças, que exigiam um crescimento diário, algo indispensável para preservar o amor. Amor que não é apenas sentimento e deve se expressar com gestos concretos. Assim, procuramos abordar esse novo aspecto da vida de família ? a educação dos filhos ?, que às vezes é motivo de crise, com muito diálogo, transformando-o em estímulo para crescermos ainda mais no amor. Também procuramos manter um diálogo muito afetuoso com eles, nosso maior tesouro.
Temos três filhos, nas três faixas etárias: a Mariana na adolescência, a Vívian na pré-adolescência e o Giovanni na infância. Cada fase tem sua beleza, requer seus cuidados e exige uma atenção especial. Uma das coisas que nunca deixamos prevalecer em nosso relacionamento familiar foi a televisão. Sempre nos organizamos para gravar os programas que julgamos apropriados, para assisti-los nos momentos oportunos, em família. Deste modo, os equivocados padrões de comportamento de alguns filmes e novelas, e os apelos ao consumismo dos comerciais e programas de auditório, jamais invadiram nossa casa.
Atravessamos, unidos, algumas crises, nenhuma muito séria, e agora, quando entramos numa fase em que nossa saúde requer mais cuidados, começamos a lidar com as crises da adolescência de nossas filhas. Mas também os filhos participam da dinâmica de relacionamentos de solicitude, de altruísmo. Assim, tudo é superado, com o amor e a confiança entre nós, que nos fazem experimentar a presença de Deus em nossa família. Já temos suficientes provas de que Ele sempre nos acompanha e nos inspira no caminho a ser trilhado.