Francisco, o escolhido

13

O Papa escolheu Francisco como nome, um importante sinal do que será o seu pontificado.

Francisco é o escolhido de Deus para assumir a tarefa própria da missão do apóstolo Pedro. Bispo de Roma, é aquele que preside na caridade o Colégio dos Bispos do mundo inteiro e a exigente tarefa de congregar na unidade a Igreja de Cristo, Povo de Deus, comprometida com o anúncio e testemunho do Evangelho da vida. Para além das apostas e conjecturas, desfilando nomes e hipóteses, com juízos próximos ou distantes da realidade, a oração confiante da Igreja é presenteada com a condução amorosa de Deus. Com a escolha do Papa, Deus guia sua Igreja, garantindo-lhe pastores, rumos, sustento, coragem profética e a redescoberta da alegria de ser servidora no mundo.

O Papa escolheu Francisco como nome, um importante sinal do que será o seu pontificado. Esse discernimento indica sua inspiração em fontes de valor inestimável para a Igreja: Francisco de Assis e Francisco Xavier. São referências que compendiam rumos, traços e dinâmicas capazes de fazer a Igreja crescer no ardor missionário para cumprir sua tarefa evangelizadora. Características que permitirão ao Povo de Deus banhar-se na espiritualidade com uma lucidez que incorpora a razão e a ultrapassa, garantindo a afeição, de amor e fé, com força incomparável para gerar amigos do Pai, profetas da verdade e da justiça, cidadãos comprometidos com o bem e a verdade.

Francisco de Assis nasceu em 1182. Abraçou a pobreza para seguir Cristo, com mais perfeição, congregando muitos corações unidos pelo amor de Deus. Francisco Xavier, nascido em 1506, é o apóstolo da caridade, dedicado evangelizador que chamou multidões à fé cristã. Em Assis, a singularidade do santo. No apóstolo do Oriente, a especialidade do pregador da fé. No coração de Francisco de Assis ecoou a convocação de Deus: “Reconstrói a minha Igreja”. Uma reconstrução operada com a força do amor e do testemunho, sustentados na ternura e no vigor. Do coração de Francisco Xavier, tocado por inigualável ardor missionário, o apelo para convencer muitos a se dedicarem à imprescindível tarefa de proporcionar a todos a experiência única, pessoal, de encontro com Jesus Cristo.

O nome escolhido pelo Papa escancara aos olhos do mundo um broto de esperança, ante a desafiadora tarefa que a Igreja tem de anunciar profeticamente e testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo, no enfrentamento de graves e exigentes questões que configuram a realidade contemporânea. De Assis e Xavier, o Papa Francisco, ancorado na sua sólida preparação intelectual jesuítica, com os pés firmados em larga e admirável experiência pastoral, particularmente fecundado pela simplicidade evangélica, incorporada nos seus gestos e postura, na sua condição missionária de sucessor do apóstolo Pedro, conduzirá a barca da Igreja para que ela recupere suas feridas nas fontes do Evangelho. Alargou-se, pelos acontecimentos destas últimas semanas, com ocorrências inusitadas, com força de questionamento e impulso de revisão, o horizonte admirável que só o Evangelho de Jesus Cristo pode desenhar e sustentar.

Neste horizonte amplo firma-se a fidelidade a princípios inegociáveis, na ética e na moral: a vida defendida e respeitada em todas as suas etapas, a luta contra toda discriminação e exclusão, o desafio de uma linguagem que traduza o Evangelho para a contemporaneidade, especialmente para os jovens e distantes, a coragem profética de anunciar e trabalhar pela verdade e a consciência clara de que o ouro da tarefa evangelizadora, pela espiritualidade, pela liturgia e pela caridade, é criar oportunidades para o conhecimento e a experiência apaixonada por Jesus Cristo. Uma escolha, a escolha do novo Papa da Igreja Católica, Papa Francisco, um tempo novo nesta história bimilenar. Um farol aceso, da simplicidade evangélica, ancorada na sabedoria, concretizada na proximidade aos outros, especialmente aos pobres e sofredores. Um tempo novo de Deus que nos dá o dom do Papa Francisco, o escolhido.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte