Uma característica de nosso tempo é a globalização. As redes sociais diminuíram as distâncias entre as pessoas, o acesso à cultura está ao alcance de multidões, descobertas da medicina chegam rapidamente aos mais remotos países etc. A qualidade de vida no planeta melhorou consideravelmente, embora nem todos tenham acesso ao progresso alcançado. É nesse mundo globalizado que vive quem acredita em Deus – daí a pergunta: como viver a fé no mundo atual?
A fé é um dom divino; é uma graça que o próprio Deus nos dá para o conhecermos. Pela fé, damos uma resposta à iniciativa de Deus, que se revela a nós. Porque cremos em Deus, cremos nas verdades que Ele nos revelou. A fé oferece uma orientação fundamental à vida. Ela é um ato pessoal, que nos liga a uma comunidade e é sustentada por ela.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, posso dizer “creio” porque, antes, a comunidade disse: “cremos”. “É antes de tudo a Igreja que crê e que dessa forma carrega, alimenta e sustenta minha fé.” Crer em Deus é um ato humano razoável. Não há oposição entre fé e razão. Essas duas realidades são, numa feliz expressão de S. João Paulo II, “como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. Nem poderia ser diferente: como Deus é o criador do mundo visível, não poderia mesmo haver oposição entre o conhecimento cientifico e o da fé.
Nossa fé não se resume a um conjunto de verdades, mesmo que bem elaboradas, mas tem um nome e um rosto: os de Jesus de Nazaré. No cristianismo, ele é o ponto de partida. É preciso, pois, debruçar-nos sobre o Evangelho para conhecê-lo e, a partir de sua experiência pessoal, conhecer o Pai.
A imagem de Deus que Jesus nos propõe é original e única: a iniciativa da salvação é do Pai: “Ele nos amou primeiro”; o relacionamento entre o Pai e nós é marcado pela misericórdia; o amor toma a forma de serviço, como no Lava-pés. Agora, não é mais o homem e a mulher que servem a Deus, mas é Deus que os serve. A nova Aliança, que Jesus veio estabelecer entre nós e o Pai, não se baseia na obediência da Lei, mas no acolhimento do amor do Pai. Não mais se busca Deus, mas se acolhe Deus, que se comunica a nós e nos oferece seus dons. O Pai nos dá a capacidade de amar e o ser humano se torna templo do Espírito Santo, santuário de Deus. O homem descobre que o culto que agrada a Deus é o amor ao próximo; que Deus não olha os méritos das pessoas, mas suas necessidades e, por meio de Seu Filho, nos convida: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).
Viver a fé no mundo contemporâneo é, ao mesmo tempo, uma maravilhosa aventura e um grande desafio. Vale a pena enfrentá-los!