Testemunho: "Receba-o de volta; ele é como se fosse meu próprio coração…" (Carta a Filemon 1, 12)

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TESTEMUNHO


Eu sou Zarelle e o nome do meu esposo é Rubens. Nós temos uma filha de 21 anos e outro filho no céu, que perdemos quando ele tinha um ano e meio. Temos 26 anos de casados, mas houve um momento em que pensei que perderia meu marido para sempre. Jesus me provou o contrário.

Há dez anos atrás, precisamente em outubro de 2002, o Rubens chegou para mim e simplesmente disse que não queria mais ficar em casa. Preferia curtir a vida de solteiro, sem ter hora para ir nem para voltar, sem dar satisfação a ninguém. Disse que não me amava mais e foi embora. Pouco tempo depois arranjou uma namorada.

Naquele tempo nós não frequentávamos a Igreja; íamos à missa só quando dava vontade. Não conhecíamos nada sobre as coisas de Deus. Quando meu marido estava indo embora, botando a mala e entrando no carro, eu disse a ele: “Olha, você está perdoado. No dia em que você quiser voltar para casa, eu te aceito de volta”. Eu mesma me surpreendi. Humanamente ninguém diria isso. Eu acabava de ter sido traída, deixada de lado, descartada. Mas foi o Espírito Santo quem agiu em mim naquele momento e eu nem mesmo O conhecia.

Assim, o primeiro milagre que Deus fez na minha vida foi o dom do perdão. Eu manifestei o perdão ao meu marido. No entanto, era Deus me amando primeiro, para que eu pudesse suportar aquela situação, porque eu não tinha mais o amor do meu marido. Era a ação silenciosa de Deus agindo em mim, mesmo sem eu conhecê-Lo, mesmo sem entender.

Mas o que é fé? Lá na carta aos Hebreus, capítulo 11, há vários significados de fé, mas eu destaco dois que acho mais interessantes. O primeiro diz assim: “A fé é um dom do Espírito Santo, é graça de Deus; é algo sobrenatural que Deus faz brotar dentro de nós. É um meio indispensável e seguro para conseguirmos todas as graças necessárias para a nossa salvação”. A segunda definição tem muito a ver comigo: “A fé é esperar por aquilo que ainda não aconteceu”. Como é que eu ia acreditar que o meu marido ia voltar para casa? Então começamos num caminho de fé.

Esse caminho de fé começa com Deus providenciando pessoas e situações para que a gente encontre essa fé. Quando a notícia chegou na nossa família, uma tia dele que é freira me ligou e disse que estava muito triste com o que havia acontecido. Ela me convidou para ir ao convento conversar. Naquela época estava arrasada. Passei um ano e meio só chorando. Ela me disse: “Olha minha filha, o Rubens não é assim. Isso foi uma fraqueza, uma tentação. Ele é um homem bom. Vocês têm um casamento equilibrado”. Eu disse: “Irmã, é isso que a senhora acha? E como é que eu fico?” E ela pediu: “Reze por ele”. Eu respondi: “Ah, irmã, eu nem sei rezar nem tenho vontade ou forças para isso”. E ela me deu um livrinho de oração. Essa foi a primeira providência de Deus.

Cheguei em casa, abri o livro, comecei a ler as orações, e comecei a perceber que, conforme o tempo foi passando, meu coração ia se acalmando. Eu não deixei de sofrer nem chorar, mas aquelas orações estavam me fazendo bem. Eu comecei a rezar. Passei uns quatro, cinco meses, só rezando, de joelho no chão até tarde da noite. Eu não entendia o tempo de Deus. Na minha cabeça, quanto mais eu rezasse mais rapidamente o meu marido iria voltar para casa.

Quando eu sentia muita saudade do Rubens, eu ligava para ele e dizia: “Volte para casa, estamos morrendo de saudade…” E ouvia: “Não, fique na sua, estou muito feliz”. Aquilo me acabava, me arrasava. Certo dia fui na casa da minha mãe e desabafei: “Mãe, tem quatro meses que eu estou rezando pelo meu marido e ele não volta… Vou desisitir, não quero mais saber…” Naquele momento entrou dentro de mim um espírito de tristeza profunda. Eu estava desistindo. Já era um sintoma de depressão. Eu fui para o quarto da minha mãe e me deitei lá. Ela me alertou: “Zareli, não fique assim. Você tem a sua filha, tem que buscá-la no colégio”. E eu respondi: “Ah, ela tem pai…” Quer dizer, eu estava desistindo até da minha filha. Então aconteceu um grande milagre. Eu estava deitada quando eu percebi uma mão segurando o meu ombro e me erguendo da cama. Eu me dirigi a um crucifixo que tinha no quarto da minha mãe e ouvi uma voz no meu coração: “Beije a cruz. Eu estou te apresentando Aquele que pode te ajudar”. Aí eu beijei a cruz e fui tomada por um sentimento de alegria intenso, imenso, coisa que eu nunca tinha sentido na minha vida. Era uma força, uma alegria, uma disposição totalmente diferente do que eu estava sentindo. Aí eu percebi que o beijo na cruz me curou, libertou-me de toda a tristeza, toda a apatia, e então eu me senti forte para continuar a viver. Fui para casa, peguei a nossa filha na escola e comecei realmente a me sentir melhor para cuidar da nossa casa, que estava meio abandonada, e da nossa filha. Depois fui entender que aquela pessoa que me levantou da cama foi Nossa Senhora. Afinal, quem é que apresenta o Filho para a gente? É a Mãe.

Outro dia eu estava em casa e uma vizinha me convidou para ir à missa. Foi quando eu tive a minha primeira experiência com a Igreja (na Paróquia da Glória, quando ainda era o templo antigo). Assim que eu entrei na Igreja comecei logo a chorar. Chorava demais. Aí eu disse pra ela: “Vou sentar no banco de trás da Igreja, que eu não quero que ninguém me veja chorando”. Depois daquela missa eu nunca mais deixei a Paróquia, porque eu percebi que cada vez que eu vinha pra missa eu chegava chorando, mas saia totalmente melhor, saía alegre. Aquilo era uma cura pra mim. E eu comecei a participar das atividades da Paróquia. Comecei a conhecer as pessoas. Passei um tempo na Legião de Maria, quando eu tive uma experiência com Nossa Senhora; lá eu aprendi a rezar o terço. E depois eu fui para o Apostolado do Coração de Jesus, onde eu aprendi a fazer adoração ao Santíssimo. Eu fui aprendendo tudo isso aqui na Paróquia. Fui sentindo vontade de comprar uma bíblia, um crucifixo, uma imagem de Nossa Senhora. Eu fui percebendo que tudo isso me fazia muito bem; eu fui gostando de viver dessa forma.

Mas, claro, o mal sempre vem atrapalhar a gente em algum momento. Eu comecei a frequentar aqui na Paróquia o grupo de oração Javé, que existe até hoje. E lá o grupo iniciava sempre com o terço. Alguém puxava a AVE MARIA e a gente respondia o SANTA MARIA… De repente eu comecei a perceber que eu não estava conseguindo responder o terço. Me dava uma falta de ar imensa, como se eu tivesse uma crise de asma. Depois de três vezes acabou essa manifestação. Mas por quê? O terço é uma oração poderosíssima; simples, mas de grande poder. Naquele momento o Inimigo não queria que eu rezasse o terço, porque alguma coisa ia acontecer na minha vida. Ele fez o possível para me tirar desse caminho. Mas eu não desisti. Continuei a rezar o terço e a frequentar o grupo.

Quando eu chegava em casa, eu chamava a nossa filha para rezar o terço. Nessa época ela tinha onze anos. Certa vez, ela disse: “Mãe, você está sentindo um cheiro de rosas?” “Não, não estou sentindo”, eu respondi. “Pois eu estou sentindo, mãe. Eu estou até vendo umas pétalas caindo…” Criança, inocente, vê essas coisas. Realmente, depois, eu começava a sentir aquele cheiro de rosas. Naquele momento, percebi que era Nossa Senhora na nossa casa, nos visitando. E como foi linda essa manifestação de Nossa Senhora.

Mas claro, a nossa fé se abala em alguns momentos. Houve períodos em que eu precisava falar com ele e por estar rezando eu achava que ele estaria melhor, não iria mais dizer coisas desagradáveis. Mas que nada! Quanto mais eu precisava falar com ele, mais eu ouvia coisas que me magoavam. Então eu fui deixando de lado esse contato porque isso me fazia muito mal.

Um dia, depois de deixar nossa filha na escola, cheguei em casa muito arrasada, triste mesmo, chorando… Então eu liguei a televisão e fui procurar um filme para assistir. Fui mudando os canais e em um deles apareceu a figura de um padre. Mesmo frequentando a Paróquia e interessada nas coisas de Deus, naquele momento eu não estava muito a fim de assistir aquilo; queria algo que me distraísse. Mudei de canal e comecei a assistir um filme. O telefone tocou, era minha mãe; ela sempre ligava para saber como eu estava. A gente conversou um pouco e quando eu voltei, a tela da televisão não mostrava mais o filme. Estava a figura daquele padre. E eu: “Meu Deus, o que é isso?” E aquele padre dizia assim: “Você precisa conhecer a TV Canção Nova…” Eu sentei no sofá, comecei a assistir, até que ele disse: “VOCÊ (aquilo pareceu uma flecha no meu coração) que está sentada no sofá da sua casa, chorando porque o seu marido lhe abandonou, Jesus está dizendo pra você que ele vai voltar. Mas Ele lhe pede uma coisa: que você permaneça fiel ao seu casamento”. Pronto! Aquilo ali entrou no meu coração; eu corri, peguei um caderninho e anotei aquela data; aquilo era uma promessa de Deus para mim. Claro, no momento eu acreditei; mas como a minha fé não estava ainda muito forte, mais tarde eu acabei esquecendo um pouco aquilo. Isso é natural do ser humano.

A partir daí eu fui me interessando para saber que canal era aquele; o que era a Canção Nova? Mais tarde eu soube que era uma comunidade católica, como o Shalom, e que eles tinham uma casa de missão aqui em Fortaleza. Eu me interessei e fui lá. Havia uma loja com grande acervo religioso, muitas coisas boas para ler, a vontade que eu tinha era de levar tudo. Uma pessoa me ajudou a escolher algo que me auxiliou naquele problema que eu estava passando. Ela me indicou os livros “Sofrer sem nunca deixar de amar”. Este livro veio me ensinar que mesmo sofrendo eu não poderia deixar meu marido. Isso é fácil? Amar quem lhe traiu não é fácil. E como foi importante pra mim esse livro. O segundo foi “Sofrendo na fé”. Ora, eu estava sofrendo, mas não podia perder a fé. E o terceiro livro foi “Quando só Deus é a resposta”. Esses livros contribuíram para o crescimento da minha fé. Algum tempo depois eu voltei lá e essa pessoa me indicou outro livro: “Quem vos uniu foi Deus”. Com ele eu fui entender o que era o matrimônio e porque eu deveria permanecer fiel. Inclusive, o autor desse livro é o mesmo padre que apareceu na TV Canção Nova falando da promessa de Jesus.

 

Tudo isso estava me fazendo um bem enorme. Quanto mais eu buscava Deus, mais eu tinha vontade. Claro que a gente tem que buscar as coisas de Deus de forma equilibrada. Ninguém pode viver na Igreja e esquecer a sua casa.

Um dia a minha mãe me ligou falando que havia saído no jornal a novena de Santa Teresinha. Eu achei muito linda e fui buscar. Achei lindíssima a promessa: se fizer a novena e receber uma rosa, será sinal de que alcançará essa graça. Primeiro comprei um livrinho com a biografia da santa e só depois que eu conheci a vida dela é que iniciei a novena. E o que foi que eu pedi na novena? Eu não precisava pedir para o meu marido voltar pra casa, pois Jesus já tinha me prometido. Mas como nossa fé é fraca… Eu pedi pra ele voltar. Mas eu disse assim: “Olha, Santa Teresinha, eu queria te fazer um pedido: que o meu marido volte pra casa arrependido. Eu não quero esse homem que está aí, não!” Essa foi a graça que eu pedi a Santa Teresinha. Isso eu testemunho para mostrar a poderosa intercessão dos santos.

Alguns meses se passaram (cerca de cinco meses). Eu estava no grupo de oração Javé quando uma senhora entrou com um ramalhete de flores. Ela começou a distribuir as rosas para algumas pessoas da sala, mas não para mim. Ela olhou pra mim, mas não me deu a rosa. Naquele momento eu não me lembrei da novena. Depois que ela deu as rosas pra todo mundo ela retornou e me deu uma rosa. Eu guardei e não me recordei da promessa da novena. Depois eu saí dali, peguei o carro e vinha pela avenida quando eu lembrei: A ROSA! Comecei a chorar copiosamente… e agradecia a Santa Teresinha. Cheguei em casa, coloquei a rosa num vaso com água. E essa rosa passou uns dois meses intacta. Só depois de dois meses foi que começaram a cair as pétalas. Peguei as pétalas, coloquei num saquinho e botei pra secar. Elas estão aqui. São sinal de fé. Assim é a poderosa intercessão dos santos; nós temos que recorrer a eles, com certeza.

Depois de um ano e meio, mais ou menos, meu marido ligou para mim e pediu pra gente conversar. Eu pensei: “Ah, meu Deus, ele se arrependeu, vai voltar pra casa! Jesus já me disse, Santa Teresinha confirmou…” Eu fui na maior esperança. Cheguei lá no escritório, ele desceu, entrou no carro, abriu a carteira, tirou a aliança dele e colocou na minha mão. E disse: “Está aqui, guarde, porque se ficar comigo eu posso perder. E porque eu posso querer usar depois”. Eu não entendi… Porque é que eu tinha que guardar essa aliança? Ele já tinha me deixado, ele não queria nada comigo. Foi o Espírito Santo que se manifestou ali, num homem pecador. Aquilo ali foi muito bom, mas eu não sabia disso. Quando ele me devolveu, eu pensei: “Pronto! Ele me descartou por completo… A aliança era a única coisa que ainda existia de mim nele”. A minha fé foi fortemente abalada. Cheguei em casa arrasada. Peguei a aliança e a amarrei aos pés do crucifixo, chorando: “Olha, Jesus, é o seguinte: meu marido me devolveu a aliança. Mas o Senhor vai trazer ele pra casa, como o Senhor já disse, mas ele tem que usar a aliança”. Isso porque a aliança é um compromisso com Deus em primeiro lugar. Eu me recordo que estava arrasada.

Naquele dia, de noite, eu me recordo que fui para o meu quarto e me ajoelhei ao pé da cama. Comecei a beijar a foto de Jesus que eu tinha; eu beijava e chorava, beijava e chorava… Foi quando aconteceu outro milagre na minha vida. Eu tenho até receio de contar, mas aconteceu. Naquele momento, eu comecei a sentir uma presença do meu lado. Eu não entendia aquilo ali, o que era, mas a partir do momento que eu olhava a foto de Jesus era como se aquela foto estivesse ali do meu lado. E eu chorava. E comecei a perceber um choro que não era o meu. Pensei: será que a nossa filha está chorando? Fui ao quarto dela e vi que ela estava dormindo. Voltei pra o meu quarto e o choro continuava… Eu não entendia o que era aquilo. E adormeci. Quando acordei, imediatamente vim aqui na Paróquia e procurei o grupo de Aconselhamento. Encontrei o padre e fui contar o que havia acontecido. O que significava? “Minha filha, você teve uma profunda experiência com Jesus. Um encontro pessoal. Isso vai mudar a sua vida para sempre”, disse o padre. “Mas padre, e o choro?”, perguntei. “Minha filha, Jesus veio para cumprir toda a escritura: chorai com os que choram; alegrai-vos com os que se alegram (Romanos 12,15)”, ele citou. E Jesus ali chorou comigo. Ele estava triste de ver como eu estava sofrendo. E triste de ver o meu marido perdido no mundo.

Foi uma experiência muito linda. A partir dessa experiência, todos os meus sentidos se transformaram. Eu comecei a perceber que eu não mais pensava mal a respeito de ninguém. Se eu olhava para uma pessoa, não conseguia mais julgar, nem participar de reuniões onde as pessoas começavam a soltar piadinha, falar mal das pessoas. Aquilo me incomodava muito, eu não entendia. Eu corria pra Paróquia e me aconselhava. “Minha filha, é porque Jesus não gosta dessas coisas. Como você teve essa experiência, isso está muito forte dentro de você”, foi a explicação que tive. O meu sentimento de amor pelo meu marido estava transformado. Eu sentia pena, compaixão de ver ele nesse mundão. Tanto que num dia de Natal, quando ele ligou para nos felicitar, eu comecei a chorar só de escutar a voz dele. A minha vizinha perguntou por que eu estava chorando. Eu disse que estava com pena dele. E ela: “Pena do Rubens? Fez o que fez contigo e você ainda tem pena dele?” E eu disse: “Eu não sei o que é isso, só sei que eu estou com pena de ver ele nessa vida de ilusão, nessa vida errada”. E ela: “Mulher, para de ir na Igreja, para de rezar. Vamos sair com a gente. A gente tem um monte de amigo pra te apresentar. Você ainda é jovem”. E eu, já crescida na fé, disse: “Eu não preciso de homem nenhum pra ser feliz. Eu preciso do meu marido”. E ela: “Mas ela não vai voltar”. Eu respondi: “Eu não sei… Mas será que você é Deus?” A partir daí ela não me procurou mais. Deve ter espalhado a história na vizinhança, pois meus “amigos” do condomínio também se afastaram. Meus verdadeiros amigos eram aqui da Paróquia. A vizinhança nem olhava mais pra mim. Mas é assim mesmo… Jesus não foi abandonado também?

A partir daí comecei a achar que realmente sairia vitoriosa dessa situação. A minha fé estava ficando mais forte e eu, mais confiante. Um dia eu estava assistindo à TV Canção Nova quando o professor Felipe Aquino pregava sobre a oração. O que acontece quando a gente reza? Ele explicou de um modo interessante: “Existe um poste e um fio. Por esse fio passa a energia. A gente não vê, mas ela chega à nossa casa. Assim acontece com a oração. Quando nós rezamos, os anjos de Deus vêm buscar as nossas orações e as levam ao Pai. Às vezes uma pessoa faz apenas uma oração com muita fé e é atendida; outras vezes, é preciso uma caminhada maior”.

Mas enquanto eu rezava, o que acontecia com o meu marido?

Ele diz que mesmo continuando na “gandaia” alguma coisa começou a mudar. Certas coisas não tinham mais graça. Ele sentia um aperto no coração. O relacionamento que ele tinha com outra pessoa foi ficando conturbado até que acabou. Às vezes ele precisava ir na nossa casa buscar algo e nós não estávamos. Ele pensava: “Meu Deus, o que eu estou fazendo no meio do mundo? Minha casa aqui tão bacana, tão arrumadinha… porque eu fui largar tudo isso?” Ele diz que chorou muito lembrando do nosso sofrimento. Isso aconteceu várias vezes. Alternava entre momentos de folia e momentos em que ele parava para pensar sobre isso. Com o tempo, ele começou a pensar muito na nossa casa, em mim, na nossa filha.

Eu não via nada disso, mas as mudanças também aconteciam com ele. Em julho de 2006, nas férias, ele ligou pra casa querendo sair com a nossa filha. E a Dara era taxativa: “Mãe, eu não aceito um pai visitante. Eu não quero um pai pra me deixar e me buscar”. Como todo filho, ela sofria muito.

Quando o Rubens saiu de casa, a Dara quase perdeu o ano. Ela não conseguia estudar, pensar, raciocinar. Ela só tinha onze anos. Quantas vezes ela acordou gritando por mim e quando eu chegava no quarto ela dizia: “Mãe, eu não consigo andar…” Começou a ter febre, a paralisar as pernas. Tudo isso eram reações psicossomáticas, mas eu não sabia ainda. Eu corria pra emergência da Unimed. No plantão, os médicos faziam exames e diziam que ela não tinha nada. Da quarta vez Deus providenciou um médico que nos atendeu e perguntou se eu estava passando por algum problema. Ele me explicou que aquilo era uma reação ao sofrimento e disse pra eu ir pra casa. “Reze, que tudo vai melhorar”, disse. Realmente, com o tempo foi melhorando. Isso é pra mostrar como nossos filhos sofrem com essa situação. Nós temos que pensar mil vezes antes de cometer algo assim. Fica um trauma imenso e pra curar só muito joelho no chão. Ainda mais que ele fez isso num período crucial, quando a nossa filha saía da infância para a adolescência. Ele saiu quando ela tinha onze anos e voltou quando ela tinha 16. Ou seja, ele não vivenciou esse período da vida dela.

Então, quando ele a convidou pra sair, eu disse: “Vá, minha filha, ele é seu pai”. E ela foi, mesmo sem nenhuma vontade. Eles foram para um restaurante jantar. Ele pegou na mão dela, disse que estava muito arrependido e queria voltar pra casa. Perguntou o que ela achava disso. Ela ficou calada, não disse nada. Eles choraram muito e o Rubens insistiu na conversa. Disse que tinha certeza de que era isso que ele queria e precisava que nós o perdoássemos. Queria saber se eu o aceitava de volta.

Quando a Dara chegou em casa, já entrou chorando. “Mãe, você não sabe o que aconteceu”. E eu: “Pronto! O Rubens agora já tem um filho…” Foi o que passou pela minha cabeça. “Dara, o que é? Você tem um irmão?” “Não, mãe! O papai está querendo voltar pra casa. Mas será que a gente vai aceitar ele aqui? Eu não sei mais viver com ele…” Ou seja, ela não tinha mais afinidade. Foram cinco anos fora de casa. Eu disse: “Dara, vamos fazer um pedido a Jesus? Que o Rubens passe o Natal com a gente? Pra ele não passar mais sozinho, numa roda de amigos…” Eu me lembro que a gente chorou muito. Isso era julho. E a gente foi dormir.

No dia 16 de novembro, dia do aniversário dele, fui à santa missa e a 1ª Leitura era uma carta a Filemon. Quando eu abri a Bíblia e fui ler, eu comecei a chorar muito porque eu estava entendo que aquela era uma cartinha de Deus pra mim. Ora, o meu marido já havia demonstrado que queria voltar. E essa cartinha só veio confirmar. Quando a palavra de Deus é viva, a gente traz pra nossa situação. É a Carta a Filêmon, capítulo 1, versículo 10 em diante: “Minha filha, peço-lhe um favor por este meu filho. Eu o estou mandando de volta para você. Ele é como se fosse o meu próprio coração. Talvez ele tenha se afastado de você por algum tempo para que você o tenha de volta para sempre. Agora você o terá não mais como escravo (não mais como um homem comum), mas muito mais que escravo: você o terá como um filho querido. Ele é querido para mim e o será muito mais para você, seja como homem, seja como cristão. Assim, minha filha, se você me considera como um irmão na fé, receba seu marido como se fosse eu mesmo. Se ele lhe deu algum prejuízo ou deve a você alguma coisa, ponha isso na minha conta. Eu te escrevo que eu mesmo o pagarei. É claro que eu não preciso fazer você se lembrar de que você também me deve a sua própria vida. Deixe que eu abuse da sua bondade. Eu te escrevo na certeza de que você vai me obedecer. E sei que fará muito mais do que eu estou te pedindo. Peço também que prepare um quarto para ele porque ele está sendo devolvido a você graças às orações que você está fazendo”.

Pronto! Eu não tinha mais dúvida nenhuma, minha fé se tornou inabalável. Foi um presente de Deus, porque era o aniversário dele. No final do ano nós fomos passar o natal na casa da minha sogra quando de repente ele apareceu pra passar o natal com a gente. E ele não só passou o natal, mas também o ano novo. Claro, de uma forma reservada. Havia um rompimento entre nós. Minha confiança estava abalada. Tudo isso tinha que ser recuperado; tínhamos que começar tudo de novo, como se fosse um namoro.

Em março de 2007 ele começou a ligar para casa totalmente diferente, me convidando para sair e conversar. A gente passou cerca de três meses saindo, conversando. E aí entra um detalhe muito importante: Deus apagou tudo da minha memória. Eu não me lembrava de nada, eu não cobrei nada, eu não falei nada. Muito pelo contrário. Ele é que perguntava: “E você, o que fez durante esse tempo?” “Ah, eu conheci Jesus”, eu disse. Ele olhou pra mim meio desconfiado e eu disse: “Olha, eu te aceito de volta, você pode voltar pra nossa casa, mas eu vou lhe fazer uma única exigência”. E ele: “Pode fazer, peça o que quiser”. Eu pedi: “Em setembro vai ter o Encontro de Casais com Cristo na Paróquia e eu quero que a gente faça”. Ele aceitou.

Nós fizemos o Encontro de Casais com Cristo (ECC) há cinco anos e desde então estamos juntos nessa caminhada de fé. Participar desse encontro é dar uma oportunidade para Deus, porque sem Ele não dá. E como é bom caminhar com Jesus!

Esse testemunho é para exaltar o nome de Jesus, porque foi Ele quem fez todas essas maravilhas, e para que a nossa fé em Seu nome aumente. Se Jesus fez tudo isso por nós, certamente fará por vocês também. Basta que você peça com fé e seja fiel.    

Eu não sei o que está difícil na sua vida… Se é o relacionamento do casal que não está bom; se é o relacionamento com os filhos; se é um problema com drogas ou com as finanças; se é o desemprego. Eu não sei o que está difícil na sua vida. Mas Jesus sabe. No seu coração, apresente a Jesus as suas dificuldades e tenha fé.

O fundador da comunidade Canção Nova, Pe. Jonas Abib, escreveu um livrinho que eu gosto muito, cujo título é “Fragmentos de uma vida em Deus”. Nele há uma frase muito linda: “Não deixe que nada te perturbe. Deus cuida de tudo. Se agora está muito difícil, tenha fé, tenha paciência, porque para quem busca Deus, nada falta”.

Zarelle Coreia Fernandes é paroquiana desde 2002; ela e seu esposo, Rubens Fernandes Junior, servem à Igreja no Encontro de Casais com Cristo (ECC), Encontro de Jovens com Cristo (EJC) e movimento ligado a diocese Encontro Matrimonial Mundial (EMM)