Bento XVI: Deus sempre responde ao grito humano

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Apesar dos perigos que cercam o homem, se este não duvidar da presença de Deus, experimentará a salvação, porque Deus escuta o grito humano, afirmou na última quarta-feira, 7 de setembro, o Papa Bento XVI.


O Pontífice, que se transladou de helicóptero de Castel Gandolfo à Praça de São Pedro para a audiência geral, quis propor aos presentes, dentro do seu ciclo de catequeses sobre a oração, toda uma lectio divina com o salmo 3.


Trata-se, como explicou, de um salmo “de lamentação e de súplica, imbuído de uma profunda confiança, no qual a certeza da presença de Deus é o fundamento da oração que se produz em uma condição de extrema dificuldade do orante”.


Segundo a tradição judaica, é um salmo composto pelo rei Davi quando fugia de Jerusalém, perseguido pelo seu filho Absalão.


“A situação de angústia e de perigo experimentada por Davi é o pano de fundo desta oração e uma ajuda para a sua compreensão”, pois, “no grito do salmista, todo homem pode reconhecer estes sentimentos de dor, de amargura, e ao mesmo tempo de confiança em Deus, que, segundo a narração bíblica, acompanhou Davi em sua fuga da cidade”, explicou o Papa.


O salmo começa com um grito de angústia diante dos “numerosos inimigos” que o cercam: “uma multidão surge e se levanta contra ele, provocando-lhe um medo que aumenta a ameaça, fazendo-a parecer ainda maior e terrível”.


O salmista “não se deixa vencer por esta visão de morte, mas mantém firme sua relação com o Deus da vida e é a Ele a quem se dirige, em primeiro lugar, buscando sua ajuda”.

A tentação da fé


No salmo, no entanto, “os inimigos tentam também destruir este vínculo com Deus e destruir a fé da sua vítima. Estes insinuam que o Senhor não pode intervir, afirmam que nem Deus pode salvá-lo”.


Este salmo, afirmou o Papa, “nos afeta pessoalmente: são muitos os problemas em que sentimos a tentação de que Deus não me salva, não me conhece, talvez não tenha a possibilidade; a tentação contra a fé é a última agressão do inimigo e devemos resistir a ela porque assim nos encontramos com Deus e encontramos a vida”.


Diante desta tentação, o salmista “invoca Deus, chama-o pelo seu nome”, prosseguiu. Nesse momento, “A visão dos inimigos desaparece agora, não venceram porque quem crê em Deus está certo de que Deus é seu amigo”.


“O homem já não está só, os inimigos já não são tão imbatíveis como pareciam, porque o Senhor escuta o grito do oprimido e responde do lugar da sua presença, do seu monte santo. O homem grita na angústia, no perigo, na dor; o homem pede ajuda e Deus responde.”

“Este entrelaçar-se do grito humano e da resposta divina é a dialética da oração e a chave de leitura de toda a história da salvação. O grito expressa a necessidade de ajuda e interpela à fidelidade do Deus que escuta”, sublinhou o Pontífice.


A oração, acrescentou, “expressa a certeza de uma presença divina que já se experimentou e na qual se acreditou, e se manifesta plenamente na resposta salvífica de Deus. Isso é importante: que, na nossa oração, esteja presente a certeza da presença de Deus”.

Por isso, “inclusive no meio do perigo e da batalha, pode dormir tranquilo, em uma atitude inequívoca de abandono confiante”.


“O medo da morte é vencido pela presença d’Aquele que não morre. É justamente a noite, povoada de medos ancestrais, a noite dolorosa da solidão e da espera angustiante, que se transforma: o que evoca a morte se converte em presença do Eterno”, acrescentou.

O Papa convidou os presentes a rezar este salmo, fazendo seus “os sentimentos do salmista, figura do justo perseguido que, em Jesus, encontra seu cumprimento”.


“Na dor, no perigo, na amargura da incompreensão e da ofensa, as palavras do salmo abrem o nosso coração à certeza consoladora da fé. Deus sempre está perto – escuta, responde e salva do seu jeito.”


No entanto, “é necessário saber reconhecer sua presença e aceitar seus caminhos, como Davi fugindo humilhado do seu filho Absalão, como o justo perseguido do Livro da Sabedoria, como o Senhor Jesus no Gólgota”.


“E quando, aos olhos dos ímpios, Deus parece não intervir e o Filho morre, então é quando se manifesta a todos os crentes a verdadeira glória e o cumprimento definitivo da salvação”, concluiu o Papa.