Nika Fernandes
Aprendi com a mamãe que em todos os momentos de nossas vidas devemos agradecer a Deus, seja na vitória ou na derrota, pois Deus age em todas as ocasiões. Ele nunca nos desampara. Em abril de 2010, vivi minha maior emoção até então: meu sobrinho João Renato veio ao mundo no mesmo dia do meu aniversário! Foi o maior presente que eu poderia receber. E, como as graças de Deus em minha vida sempre vem em grande quantidade, Gelter e eu noivamos em um momento lindo e cheio de emoção, e dali há 6 meses seria nosso casamento.
O dia 18 de julho tinha tudo para ser um dia perfeito, mas a vida nos prega algumas surpresas, que nem sempre são boas. Minha família tinha viajado para Ubajara e retornaria nesse dia, mas um irresponsável interrompeu a viagem. Minha família sofreu um acidente, no qual faleceram meu pai, minha mãe e minha irmã mais velha e sobreviveram meu sobrinho João Renato, de 3 meses, filho da minha irmã que veio falecer, bem como minha irmã mais nova, Amanda. Tudo por conta da mistura álcool e direção que aquele indivíduo tinha feito.
Por volta das 10h15, recebi uma ligação da minha tia e ela repetia a todo instante: “Fafada [apelido da minha mãe] sofreu um acidente, vem logo”. Na hora do susto, derrubei o telefone e saí correndo no meio da rua sem direção. Minha amiga Regiane ligou para o meu noivo Gelter e ele correu pra tentar entender o que se passava. Naquele mesmo momento, ele ligou para Tianguá e soube da gravidade da situação. Mas eu não sabia de nada.
O desespero só aumentava. Gelter chegou, pegou meu cunhado, e nos levou até Sobral. Ao sair de casa, soube que meu pai não tinha resistido aos ferimentos. A dor dilacerava meu peito. Na estrada, eu suplicava: “Senhor, não me abandona, salva a mamãe e a kinha [apelido da minha irmã]”. As orações eram direcionadas a elas, pois naquela hora eu já sabia que o bebê e minha irmã mais nova estavam com vida. A viagem seguia, a mais longa da minha vida, e foi nesse momento que eu recebi a pior notícia da minha vida: mamãe e kinha não resistiram.
Seguimos até Sobral, onde fui encontrar a Amanda. Gelter e meu cunhado foram liberar os corpos. As lembranças desse dia vem e vão e se misturam num turbilhão de emoções. No dia seguinte, durante o velório, eu só lembro de dizer a todos os meus amigos que me abraçavam: “abrace e beije seus pais e seus irmãos todos os dias e digam o quanto os ama”, pois era assim na minha casa.
Os dias foram passando. O vazio, a dor e tristeza só aumentavam. Ainda passei uma semana com Amanda no hospital. Foram momentos difíceis. Eu virava noites e dias, e suplicava a Nossa Senhora: “minha mãe, me carrega em teus braços, por que eu não sei o que fazer”. Eu tentava rezar, mas não conseguia rezar nem um Pai Nosso, simplesmente não saía. Eu agradecia pela vida do meu sobrinho e da Amanda, mas a sensação de impotência em relação à morte de meus pais e minha irmã me consumia. Gelter e Regiane não me deixavam só, e eu dizia a Deus e à mãezinha: “forças eu não tenho, mas não vou desistir, porque a Amanda e meu sobrinho dependem de mim”.
Depois de 30 dias, consegui rezar um Pai Nosso e continuava pedindo a Deus que me conduzisse, pois eu não sabia o que fazer. O tempo foi passando, tudo começando a entrar nos eixos e a data do casamento se aproximava. Faltando 30 dias para a data do casamento, Gelter e eu nos sentamos para conversar e esclarecemos tudo o que tínhamos pela frente: nossa nova vida não seria mais uma vida a dois, mas sim a três, já que minha irmã mais nova iria passar a morar conosco. Quando fomos escolher as músicas, meu músico me perguntou: “Nika, como vocês querem sua festa?” Respondi que queria a festa mais animada que ele já havia feito em toda a sua vida. E nosso tão sonhado dia 23/10/2010 chegou, o dia que Deus escolheu para mim e Gelter nos unimos em uma só carne. Foi uma noite regada de emoções, requinte, alegrias e muita felicidade, pois eu sabia que eles estavam ali o tempo todo conosco.
A nossa vida de surpresas continuava.
Gelter e eu já estávamos querendo engravidar. Tentamos cerca de um ano e nada de dar certo. Procuramos um médico e passamos mais um ano com acompanhamento simples e nada, até que o médico sugeriu a fertilização in vitro (FIV). Mesmo sabendo que era um tratamento dolorido e caro, não pensamos duas vezes, pois o que queríamos era gerar o nosso bebê. Antes de iniciar a primeira FIV, fomos até o Padre Chico pedir a benção. Ele não se recusou a nos abençoar, mas nos olhou e disse: “tudo é no tempo de Deus e não no nosso tempo”. Foram três FIV’s, e todas negativas. A frustração, a dor, um mix de sentimentos ruins e questionamentos não nos deixavam em paz. Resolvemos dar um tempo no tratamento e cuidar da gente. Em minhas orações eu sempre pedia a Deus: “Senhor, permita que eu possa ter meu bebê”.
O tempo foi passando, as orações aumentando, Gelter e eu começamos a rezar juntos e, quando estávamos fazendo o 34º Encontro de Casais com Cristo (ECC), em 2014, estava eu diante de um padre em confissão e pedi perdão a Deus por tudo o que eu tinha feito, inclusive o tratamento para engravidar, pois agora eu sabia que não era bem aceito pela minha religião e prometi que nunca mais o faria. Dias depois, Gelter chega para mim e pergunta: “amor, quando vamos fazer uma nova FIV?” Meu coração gelou, pois eu havia prometido a Deus que não faria mais e não sabia como falar pra ele. Aumentei as orações. Já não pedia a Deus um filho, pedia: “Senhor seja feita a tua vontade e nos cura de qualquer infertilidade”. Em outubro, mês de Nossa Senhora Aparecida, eu me entreguei a ela e pedia para ela interceder junto ao Filho e que, se fosse da vontade d’Ele, que nós tivéssemos o nosso filho. Naquele mesmo mês, fizemos a novena de São Judas Tadeu. Na hora de pedir a graça eu dizia: “Senhor seja feita a tua vontade, nos cura de qualquer infertilidade e nos capacita para a maternidade!”
Dia 05/12/14 recebi uma surpresa: meu aplicativo de menstruação enlouqueceu. Comprei o teste de farmácia e para a minha maior felicidade ali estava Deus me mostrando meu tão sonhado e esperado POSITIVO. Caí no chão de joelhos agradecendo a Deus, mas com muito medo de estar enxergando errado, não tive coragem de contar ao Gelter. No outro dia fui ao laboratório, fiz o exame de sangue e quando ele chegou do trabalho dei o exame para ele ler. Ele ficou sem acreditar e ali começou nosso mundo mágico, nossa gravidez tão desejada.
Giovanni nasceu em 24/07/2015 e foi um presente que Deus nos deu. Hoje percebemos que estando cada vez mais próximos de Deus e servindo a Ele, tudo flui naturalmente. Somos gratos a Deus por todas as graças alcançadas, por todo amor que Nossa Senhora tem por nós, por todos os livramentos e, principalmente, por todo o amor que Ele dedica a nós.
Somos gratos também por todo amor e amigos em Cristo que construímos na Paróquia Nossa Senhora da Gloria, através do ECC (Círculo Vermelho 34) e de nossa Pastoral (da Acolhida), por todo o crescimento espiritual e por toda a nossa fé restaurada.
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