Frei Wilter Malveira: “Perca tudo, mas não perca a sua fé”

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Frei Wilter Malveira presidiu a santa missa deste sábado, 3 de agosto

“Confio em ti, minha esperança, confio sempre em ti”. Com um trecho da canção “Confio em ti”, de Davidson Silva, Frei Wilter Malveira preparou os corações dos paroquianos para a homilia que se iniciava. O sacerdote capuchino – que também é comunicador, cantor e compositor – presidiu a santa missa no terceiro dia da Festa da Padroeira 2024, na tarde deste sábado, 3 de agosto.

O evangelho (Jo 6,24-35) mostra uma multidão que buscava Jesus não porque havia compreendido os seus sinais, mas porque comeu pães e peixes e ficou satisfeita. “O povo vai atrás de Jesus de forma mal-intencionada. Eles não entenderam o significado daquele sinal, ficaram apenas na necessidade material. Mas ali havia um pão capaz de saciar a alma, o Pão da Vida”, explicou Frei Wilter.

Segundo destacou, a obra de Deus no mundo acontece quando cada um de nós confia em Jesus. “O evangelho de hoje fala de fé, de confiar em Deus. Mas o que é a fé? A Palavra nos ensina que é a certeza daquilo que não se vê. É preciso fé para acreditar em Jesus na Eucaristia, para crer na assunção de Nossa Senhora, assim como na vida eterna e no fato de que essa Igreja é guiada e conduzida pelo Espírito Santo”, apontou o sacerdote.

“Sem fé é impossível agradar a Deus”

Para o Frei, o grande problema da sociedade atual diz respeito a uma crise de fé. “Sem fé é impossível agradar a Deus. Se as nossas igrejas e eventos católicos estão tão lotados, porque existe tanta injustiça, tanto preconceito, tanta homofobia, tanta gente passando fome, tanto desamor?”, questionou o Frei, lembrando que o cristianismo é a religião do amor.

Aprofundando ainda mais o tema, o sacerdote evocou um dos ensinamentos de São João da Cruz: “O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado”. Dessa forma, fé não é sentimento, é amor. “Às vezes eu quero uma fé que faça-me sentir bem. Achamos que pôr um véu, um crucifixo no pescoço, esse é o nosso passaporte para o céu. O meu hábito de sacerdote não me faz melhor do que ninguém. Se tudo isso não me fizer melhor, é vaidade”.

Frei Wilter convidou os fiéis a viverem sua fé de forma genuína e a respeitarem a caminhada do próximo com paciência, pois Deus tem uma história única com cada pessoa. “Não devemos impor a fé goela abaixo”, ensinou.

“A fé precisa ser humilde, simples, perseverante”

“A fé precisa ser humilde, simples, perseverante. E sem obras, ela é morta”, completou, apontando que não é possível viver o cristianismo com um coração cheio de ódio, ressentimento e preocupações. “Se você quer uma fé autêntica, não somente de exterioridade, ela precisa ser humilde”.

Para concluir, Frei Wilter Malveira partilhou uma experiência pessoal, quando ele ainda estava estudando em Roma, neste ano. Era dia de Santo Antônio, 13 de junho, e o Frei se dirigiu até a Basílica dedicada ao santo, em Pádua, na Itália. “A primeira coisa que fiz foi me confessar. Quem me atendeu foi um frei já velhinho – ele tinha 60 anos de padre e eu, doze. Ele me disse: pode parecer bobagem, mas senti que deveria dizer a você. Perca tudo na sua vida, mas não perca a sua fé”.

Aquele conselho entrou no coração de Frei Wilter como uma flexa e, daquele dia em diante, ele o adotou como regra de vida. “Eu posso perder saúde, beleza, amizades, posição social, visibilidade, fama, tudo… Mas a única coisa que eu não quero perder na minha vida é a fé em Deus. Sem fé, falta uma forca – porque a virtude da fé é força. Quando você tem uma dificuldade, uma decepção, um fracasso, um câncer, um luto, você tem onde se agarrar. Isso se chama fé”.

Essa foi a mensagem que o sacerdote capuchinho deixou à comunidade.

Por Patrícia Guabiraba (jornalista, integrante da Pascom)