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Alex de Brito Sátiro*
“Foi em Cristo que Deus Pai nos escolheu” (Ef 1,4). Essa passagem, da carta de São Paulo aos efésios, demonstra bem o sentimento e a experiência que vivi ao encontrar Jesus Cristo na vida. Eu, Alex de Brito Sátiro, primeiro filho e neto de uma família de nordestinos que, como qualquer pai, depositaram a esperança de um futuro melhor. Desejavam que eu estudasse, me formasse, tivesse um bom emprego e constituísse uma família. O que não imaginavam é que Deus já tinha outros propósitos para minha vida.
A Igreja entrou em minha vida durante a formação educacional, através das escolas católicas, pois meus pais eram, como se costuma dizer, “católicos de IBGE”, isto é, sempre se confessaram católicos, mas não frequentavam e nem entendiam o que a bíblia e a doutrina da Igreja diziam. Assim, aprendi os fundamentos da Fé e da Humildade com os Franciscanos; o amor a Cristo e a Igreja com os Salesianos; a devoção a Maria e a recitação do terço com os Maristas. E, enquanto crescia, os projetos de minha família iam sendo realizados e a fé se solidificava em meu coração. Estudei, me formei, trabalhei e tive até um bom emprego. Durante esse tempo, a ideia de ir para o seminário aparecia, mas ainda não me sentia preparado para a entrega total ao Reino de Deus. Assim como Jesus, eu crescia “em estatura e em sabedoria de Deus e dos homens” (Lc 2,52).
Depois de um tempo, já formado, trabalhando e com um bom salário, me senti interpelado a largar tudo e seguir a Jesus. Como o jovem rico (Cf. Lc 18, 18-23), não conseguia largar tudo o que havia conquistado para me dedicar ao Reino de Deus. Sentia-me como o profeta Jonas, enviado por Deus para anunciar a Nínive e fugiu da missão confiada pelo Senhor (cf. Jn 1,2ss.). Foi quando, assim como Jonas, fui lançado ao mar pelas adversidades da vida (cf. Jn 1,15ss.). Mudei de emprego, de carreira profissional, ganhava muito pouco, mas estava feliz. Feliz porque agora podia dedicar mais tempo à Igreja e ao povo de Deus. Este foi o tempo em que estive como Catequista, ajudava no Conselho Pastoral e estive como Secretário Pastoral da Paróquia Nossa Senhora da Glória. O Senhor me interpelou novamente, e agora, sem ter mais nada a dizer e a pedir, deixei-me guiar por sua voz que ardia em meu peito e fui para o seminário.
O seminário é um período de sementeira, onde a Palavra de Deus é lançada e devemos cuidar dela para que possa vir a dar frutos. É o local onde a vida, segundo o Espírito, deve ser vivenciada com mais fervor. É o período onde nossa fé necessita de solidez. Para isso estudamos Filosofia e Teologia para que os conceitos de fé e doutrina deixem de ser uma crença ingênua e passem a ser consciente, a integrar nossa identidade. É no seminário também que fazemos novos laços de amizade e fraternidade, que vemos os Presbíteros como uma grande família; que se aprende a importância da unidade da Igreja; que se aprende os princípios da oração e de seguir ao Senhor e assumir o carisma do Bom Pastor. A vivência das atividades pastorais nos permite por em prática tudo o que aprendemos, mas diferente de um oficio, é neste contato com o povo de Deus que aprendemos a ser o Bom Pastor, a experimentar o amor. O Amor de Deus se torna mais presente quando vemos a confiança, a esperança e a gratidão das pessoas em Deus nas mais diversas situações da vida.
A experiência do povo me fez ver a Palavra de Deus se tornado vida concreta. A Palavra que há tempos me fez ter a verdadeira experiência com Jesus Cristo. São Paulo diz que “a fé depende, portanto, da pregação, e a pregação é o anúncio da Palavra de Cristo” (Rm 10,17). Assim, minha fé se tornou sólida com a ajuda da pregação dos Padres nas celebrações Eucarísticas (aqui gostaria de agradecer, na pessoa de Padre Francisco de Assis Filho, pároco da Paróquia da Glória, nosso Pastor, a todos os sacerdotes que, de forma direta ou indireta, foram responsáveis por minha formação); do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), ao estudar a Bíblia com a metodologia popular; ao ler a Palavra para preparar os encontros de catequese; na faculdade; com a Liturgia das Horas na vida do seminário… Assim, a Palavra foi se tornando vida; vida em minha vida e o diálogo com Deus foi ficando cada vez mais intenso ao ponto de reconhecer sua voz no meio dos barulhos do mundo. Hoje, assim como Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, busco a cada dia ser Palavra de Deus e viver o Amor e a Unidade.
O importante de toda essa história é perceber a presença de Deus em todos os momentos de nossa vida e saber que, dos Projetos de Deus, não conseguimos fugir; que o processo de conversão se dá no tempo certo para cada um, mas a semente do amor a Deus deve ser sempre plantada, regada, cuidada para que possa dar frutos. O família é de primordial importância nesse processo, assim como o da Comunidade de Origem. A todos, muito obrigado. Faço aqui um pedido, pais e mães, se seu filho demonstrar vocação incentive-o, não arranque o fruto da árvore, pois será dela que muitos poderão se alimentar da Palavra de Deus; jovens: com tudo e por tudo em Cristo vale a pena dedicar a vida à construção do Reino de Deus, pois a “Messe é grande e os operários são poucos. Por isso pedi ao Senhor da messe que mande operários para a colheita” (Lc 10,2)
Hoje, me sinto grato e feliz por ter doado a vida para a construção do Reino de Deus. Tenho a consciência que foi ele quem me escolheu, me escolheu dentre vocês para que possa ser instrumento da Sua vontade e conduzir seu povo ao Amor; o amor a Maria e a seu filho Jesus. Entendi que todos os projetos familiares que consegui concluir não eram conquistas minhas, mas era Deus que preparava o caminho para a minha caminhada vocacional; para que pudesse decidir, livre e conscientemente, com ajuda da Igreja e as bênçãos de Deus abraçar o sacerdócio.
Rezemos pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas. Que pela intercessão de Nossa Senhora da Glória, o Senhor abençoe a todos vocês. Um abraço fraterno e um beijo no coração!
* Alex de Brito Sátiro é diácono da Arquidiocese de Fortaleza, ordenado na noite do dia 25 de agosto, na Catedral Metropolitana de Fortaleza, junto com outros dez irmãos.
ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
Senhor da Messe e Pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave chamado: “Vem e segue-me!”. Derrama sobre nós o teu Espírito, que ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz.
Senhor, que a Messe não se perca por falta de operários. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que desejam dedicar-se ao Reino na diversidade dos ministérios e carismas. Senhor, que o rebanho não pereça por falta de Pastores. Sustenta a fidelidade de nossos Bispos, Padres, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Ministros, leigos e leigas. Dá perseverança aos nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens para o ministério pastoral em Tua Igreja.
Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, chama-nos para o serviço de teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo de servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder SIM. Amém.