PERGUNTA DO MÊS: É possível ser santo no mundo atual?

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Vatican News


O Vaticano apresentou, no dia 9 de abril, a nova exortação apostólica do Papa Francisco, “Gaudete et exsultate” (Alegrai-vos e exultai), sobre o chamado à santidade no mundo atual. “Com efeito, o chamado à santidade está patente, de várias maneiras, desde as primeiras páginas da Bíblia; a Abraão, o Senhor propô-la nestes termos: ‘anda na minha presença e sê perfeito’ (Gn 17, 1)”, escreve no Papa logo no início do documento.

Em abril, o Vaticano apresentou a nova exortação apostólica do Papa Francisco, que trata do chamado à santidade no mundo atual | Foto: divulgação

Vida de misericórdia




Na Exortação, o Papa destaca que o chamado à santidade é para todos e nós nos tornamos santos vivendo as bem-aventuranças, caminho principal porque segue “contra a corrente” em relação à direção do mundo.

 

A vida de santidade está assim intimamente ligada à vida de misericórdia, “a chave para o céu”. Portanto, santo é aquele que sabe comover-se e mover-se para ajudar os miseráveis e curar as misérias. Quem esquiva-se das “elucubrações” de velhas heresias sempre atuais e quem, entre outras coisas, em um mundo acelerado e agressivo “é capaz de viver com alegria e senso de humor.”

Não é um “tratado”, mas um convite


 

É precisamente o espírito de alegria que o Papa Francisco escolhe colocar na abertura de sua última Exortação Apostólica. O título “Gaudete et Exsultate”, “Alegrai-vos e exultai,” repete as palavras que Jesus dirige “aos que são perseguidos ou humilhados por causa dele”.


Antes de mostrar o que fazer para se tornar santos, o Papa Francisco se detém no primeiro capítulo sobre o “chamado à santidade” e reafirma: há um caminho de perfeição para cada um e não faz sentido desencorajar-se contemplando “modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis” ou procurando “imitar algo que não foi pensado para ele”. (n. 11). “Os santos, que já chegaram à presença de Deus” nos “protegem, amparam e acompanham” (n. 4), afirma o Papa. Mas, acrescenta, a santidade a que Deus nos chama, irá crescendo com “pequenos gestos” (n. 16) cotidianos, tantas vezes testemunhados por “aqueles que vivem próximos de nós”, a “classe média de santidade” (n. 7).

Oito caminhos de santidade


 

Além de todas as “teorias sobre o que é santidade”, existem as Bem-aventuranças. Francisco coloca-as no centro do terceiro capítulo, afirmando que com este discurso Jesus “explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo” (n. 63).


O Papa as repassa uma a uma. Da pobreza de coração – que também significa austeridade da vida (n. 70) – ao reagir “com humilde mansidão” em um mundo onde se combate em todos os lugares. (n. 74). Da “coragem” de deixar-se “traspassar” pela dor dos outros e ter “compaixão” por eles – enquanto “o mundano ignora, olha para o lado” (nn 75-76.) – à sede de justiça.


Do “olhar e agir com misericórdia”, o que significa ajudar os outros “e até mesmo perdoar” (nn. 81-82), “manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor” por Deus e o próximo, isto é santidade. (n.86).


E finalmente, do “semear a paz” e “amizade social” com “serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza” – conscientes da dificuldade de lançar pontes entre pessoas diferentes (nn. 88-89) – ao aceitar também as perseguições, porque hoje a coerência às Bem-aventuranças “pode ser mal vista, suspeita, ridicularizada” e, no entanto, não se pode esperar, para viver o Evangelho, que tudo à nossa volta seja favorável” (n. 91).


No quarto capítulo, Francisco repassa as características “indispensáveis” para entender o estilo de vida da santidade: “perseverança, paciência e mansidão”, “alegria e senso de humor”, “audácia e fervor”. O caminho da santidade vivido como caminho “em comunidade” e “em constante oração”.

Luta vigilante e inteligente


 

A vida cristã é uma luta “constante” contra a “mentalidade mundana” que “nos engana, atordoa e torna medíocres” (n. 159). O Papa conclui no quinto capítulo convidando ao “combate” contra o Maligno que, escreve ele, não é “um mito”, mas “um ser pessoal que nos atormenta” (n. 160-161). As suas maquinações, indica, devem ser contrastadas com a “vigilância”, usando as “armas poderosas” da oração, a adoração eucarística, os Sacramentos e com uma vida permeada pela caridade (n. 162).


Importante, continua Francisco, é também o “discernimento”, particularmente em uma época “que oferece enormes possibilidades de ação e distração” – das viagens, ao tempo livre, ao uso descontrolado da tecnologia – “que não deixam espaços vazios onde ressoa a voz de Deus”. Francisco pede cuidados especiais para os jovens, muitas vezes “expostos a um constante zapping”, em mundos virtuais distantes da realidade (n. 167).


“Faz-se discernimento, não para descobrir que mais proveito podemos tirar desta vida, mas para reconhecer como podemos cumprir melhor a missão que nos foi confiada no Batismo, e isto implica estar disposto a fazer renúncias até dar tudo” (174).

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