Entrevista: “Antes de casar eu já havia decidido ser diácono” (diácono Eufran de Menezes)

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Diácono Eufran de Menezes

O chamado para o altar é irresistível, mesmo para homens cuja vocação é a família. “O diácono é um homem dividido entre a família e o serviço a Deus”, explica o diácono Antônio Eufran de Menezes, que foi provisionado para a Paróquia da Glória no dia 31 de julho de 2023, mas já havia chegado aqui em novembro de 2022.

Casado com Manuela, ele tem duas filhas: Ana Beatriz (17) e Ana Letícia (16). Casou-se em 08 de dezembro de 2000, dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição; já a ordenação diaconal aconteceu em 10 de junho de 2011. Com 51 anos completos em 12 de fevereiro, diácono Eufran ressalta que seu lema diaconal é “Eis que venho Senhor fazer a vossa vontade” (Salmo 39).

Qual a missão do diácono?

O diácono tem um tripé, que é a Palavra, a Liturgia e a Caridade. O Diácono é o homem da Palavra porque, na ordenação, ele recebe do bispo a Palavra de Deus. Ele deve ler e ser uma pessoa de profunda oração com os evangelhos. Importante destacar que o diácono é ordenado para auxiliar diretamente o bispo (não o padre em sei). Na liturgia, o diácono pode realizar o batismo, pode assistir casamento e dar as bênçãos do rito, ou seja, abençoar terços, medalhas, casas. E ele faz também uma paraliturgia: quando o padre falta, ele faz a Celebração da Palavra. Quanto à caridade, o diácono foi instituído na igreja exatamente por causa dela. No passado, algumas viúvas estavam sendo atendidas pelo bispo e outras não, e o diácono foi instituído na igreja para que o bispo não ficasse nessa situação e tivesse tempo para rezar. E caridade não significa só alimento. Cada acompanhamento ou direcionamento espiritual que eu faço na Paróquia, é caridade. E o diácono também é responsável pelo dinheiro da igreja; antigamente era assim. Por isso São Lourenço foi martirizado, porque quiseram o dinheiro da igreja. Só que ele levou os pobres e disse que a grande fortuna da igreja eram os pobres. O diácono também tem a função de acompanhar as pastorais, dar formações; também pode conduzir e dar a bênção do Santíssimo.

O que veio primeiro? A vocação ao casamento ou ao diaconato?

Antes de casar eu já tinha decidido a minha vocação de ser diácono. Quando eu e Manoela começamos a namorar, eu disse a ela: olha eu quero ser diácono. Se você achar que você não vai querer você me diz que eu não vou casar! (risos) Então ela casou sabendo que iria dividir com a igreja. Então o diácono é uma pessoa dividida no serviço da igreja e no serviço da família. Mas é bom ter um diácono na família, creio eu, por causa do exemplo. A gente nunca forçou nossas filhas a virem à igreja. Elas vinham comigo e com a mãe, depois quiseram se engajar. Então a gente pode dar uma formação religiosa católica sólida, e até hoje estão engajadas.

É um grande desafio dividir o tempo com a família, o trabalho e a igreja?

O diácono precisa saber gerenciar o seu tempo. Durante o dia eu preciso trabalhar, porque eu preciso manter a família, mas também tenho emergências pastorais. Nestes momentos, preciso parar o trabalho para atender. Deus me deu a graça de ter um trabalho que dá para conciliar. Eu tenho uma empresa de informática, com manutenção de computadores, então consigo flexibilizar os horários para também atender às emergências pastorais. É um desafio, mas é um desafio bom, prazeroso.

O senhor veio de família católica? Como foi o despertar da fé?

A minha família se dizia católica, mas só batizou os filhos. Não tinha uma vivência de igreja. Certo dia eu estava sentado no sofá, na minha casa e lá tinha uma cruz – e essa cruz, onde estava Jesus, começou a me questionar. O que eu estava fazendo da minha vida? A minha irmã tinha me falado da comunidade Shalom, da Renovação Carismática Católica, e eu fui fazer essa experiência. Fiz o seminário de vida no Espírito Santo, em 1994, na comunidade Shalom da Paz, e dali eu comecei a procurar a minha vocação.

E foi na minha paróquia de origem que conheci o padre Aldo Pagotto (que depois virou dom Aldo Pagotto). Ele viu um jovem ali atrás, de um lado pro outro, atrás de saber o que estava acontecendo. Ele mandou um coroinha me chamar depois da missa. Ele chegou e disse pra mim: “eu queria falar com você. Deus tocou no meu coração: há quanto tempo você não se confessa?” Eu disse: “muito tempo”. E ele disse que ia celebrar na Igreja de Santa Edwiges, ali perto do hotel Marina, e queria eu fosse com ele. Papai permitiu e fui com ele. No caminho, ele me disse: “pois está na hora de se confessar”. E aí eu fui me confessando… teve uma hora que eu chorava mais do que falava. Cheguei lá na igreja chorando demais. Ele me absolveu e disse: “fica tranquilo”. Sentei lá atrás e daqui a pouco veio o coroinha de novo: “olha o padre está lhe chamando”. Quando eu cheguei lá, o coroinha disse que o padre queria que eu colocasse a túnica. Eu botei e foi o primeiro dia em que realmente eu me senti muito alegre, contente, feliz da vida. Eu dizia: “eu acho que é isso que Deus quer pra mim”. E daí eu fui para o Shalom, para o seminário, e dom Aldo ficou me acompanhando para discernir a vocação. Fiz vestibular e passei para Filosofia. Ele dizia: “você vai ser sacerdote”. E eu: “espera aí, vamos rezar, ver direitinho o que Deus quer”. E lá no Shalom eu entrei num ministério de servos e fui enviado em missão para Ubajara. Era um retiro de dez dias e em certo momento uma pessoa que rezando por mim disse: “Deus está me dando uma visão de você com uma estola atravessada, e eu não sei que estola é essa porque o padre não usa assim”. E eu disse: “eu acho que eu sei qual é, não se preocupe!” E foi assim o despertar da vocação. Deus foi confirmando.

Diácono Antônio Eufran de Menezes
Ordenação diaconal: 10 de junho de 2011
Lema diaconal: “Eis que venho Senhor fazer a vossa vontade” (Salmo 39)