“A Caridade não é uma ideia ou um sentimento piedoso, mas é o encontro experiencial com Cristo; é querer viver com o coração de Deus que não nos pede para ter pelos pobres um amor genérico, afeto e solidariedade, mas encontrar neles Ele mesmo, com o estilo de pobreza.”
Foi o que disse o Santo Padre aos participantes do encontro promovido pela Caritas internacional – um grupo de 400 pessoas – recebidos por Francisco na Sala Clementina, no Vaticano, às 12h30 (hora local) desta segunda (27/05).
Tendo expressado a alegria de encontrá-los por ocasião de sua XXI Assembleia Geral da Caritas Internacional, o Papa recordou aos presentes provenientes de todas as partes do mundo que tal encontro constituiu não somente um momento significativo na vida da Confederação, mas serviu também para reforçar os vínculos de comunhão recíproca na adesão ao Sucessor de Pedro, ressaltando o laço estreito e forte que une o organismo caritativo à Sé Apostólica.
Francisco lembrou que São João Paulo II quis conferir à Caritas Internacional a personalidade jurídica canônica pública, chamando-os a partilhar a própria missão da Igreja no serviço da caridade.
O Papa articulou seu discurso aos presentes desenvolvendo-o a partir de três palavras-chaves: caridade, desenvolvimento integral e comunhão.
Considerada a missão que a Caritas é chamada a desempenhar na Igreja, é importante voltar sempre a refletir juntos sobre o significado da própria palavra caridade, disse.
“A caridade não é uma prestação estéril ou um simples óbolo a ser restituído para apaziguar a nossa consciência. O que jamais devemos esquecer é que a caridade tem a sua origem e a sua essência em Deus mesmo; a caridade é o abraço de Deus nosso Pai a todo homem, de modo particular aos últimos e aos sofredores, os quais ocupam no seu coração um lugar preferencial.”
O Pontífice advertiu que se olhássemos a caridade como uma prestação, “a Igreja se tornaria uma agência humanitária e o serviço da caridade seu “departamento logístico”. Mas a Igreja não é nada disso, observou, “é algo diferente e muito maior: é, em Cristo, o sinal e o instrumento do amor de Deus pela humanidade e por toda a criação, nossa casa comum”.
A segunda palavra tomada pelo Papa em sua reflexão foi desenvolvimento integral. No serviço da caridade coloca-se em questão a visão do homem, a qual “não pode reduzir-se a um único aspecto, mas envolve todo o ser humano enquanto filho de Deus, criado à sua imagem”.
No rosto dos pobres, o rosto de Cristo
Em primeiro lugar, ressaltou, “os pobres são pessoas, e em seus rostos se esconde o rosto de Cristo. Eles são sua carne, sinais de seu corpo crucificado, e nós temos o dever de chegar até eles nas periferias mais extremas e nos subterrâneos da história com a delicadeza e a ternura da Mãe Igreja”. “Devemos buscar a promoção integral do homem e de todos os homens a fim de que sejam autores e protagonistas de seu progresso”, acrescentou.
“O serviço da caridade deve, portanto, escolher a lógica do desenvolvimento integral como antídoto à cultura do descarte e da indiferença. E dirigindo-me a vocês, que são a Caritas, quero reiterar que ‘a pior discriminação da qual os pobres sofrem é a falta de atenção espiritual.”
Vocês bem o sabem, frisou o Papa, a grande maioria dos pobres “tem uma especial abertura à fé; precisam de Deus e não podemos deixar de oferecer-lhes sua amizade, sua bênção, sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta de um caminho de crescimento e de maturação na fé”.
Como nos ensina também o exemplo dos Santos e das Santas da caridade, “a opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se principalmente numa atenção religiosa privilegiada e prioritária”, destacou o Santo Padre.
A terceira palavra é comunhão, que é central na Igreja, define sua essência. “A comunhão eclesial nasce do encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo, que, mediante o anúncio da Igreja, alcança os homens e cria comunhão com Ele mesmo e com o Pai e o Espírito Santo”, disse ainda.
Francisco exortou-os a viver a Caridade, o Desenvolvimento Integral e a Comunhão com o estilo de pobreza, de gratuidade e de humildade:
“Não se pode viver a Caridade sem ter relações interpessoais com os pobres: viver com os pobres e para os pobres. Os pobres não são números, mas pessoas. Porque vivendo com os pobres aprendemos a praticar a Caridade com o espírito de pobreza, aprendemos que a caridade é partilha. Na realidade, não somente a Caridade que não chega ao bolso resulta uma falsa caridade, mas a Caridade que não envolve o coração, a alma e todo o nosso ser é uma ideia de caridade ainda não realizada.”
Sendo a Caridade a mais almejada das virtudes à qual o homem possa aspirar para poder imitar Deus, torna-se escandaloso ver agentes de Caridade que a transformam em business: “falam tanto em Caridade – advertiu por fim o Santo Padre –, mas vivem no luxo ou no esbanjamento ou mesmo organizado Fórum sobre a Caridade desperdiçando inutilmente tanto dinheiro. Dói constatar que alguns agentes de Caridade se transformam em funcionários e burocratas”.